terça-feira, 15 de julho de 2008

primeira exposição individual






A partir de 15 de Julho de 2008 e até ao último dia do mês, uma pequena exposição de telas a óleo estará patente no Hospital de Macedo de Cavaleiros. Para os que não possam ir vê-la in loco, aqui se deixam algumas anotações. São oito trabalhos em duas séries de quatro.



The Doctor, emoções I, II, III, IIII





Sir Henry Tate encomendou a Luke Fildes, em 1887, um quadro de grande realismo e intensidade emocional, grande também nas medidas (166,4 cm * 241,9 cm) e no preço (3000£). A obra ficou terminada em 1891, foi apresentada por Sir Henry Tate em 1894 e, desde então, tem sido reproduzida milhões de vezes em litografias, gravuras, selos, postais, posters, etc.
Apesar de omnipresente e vulgarizada nos estabelecimentos médicos um pouco por toda a Europa e por todo o Mundo, nem por isso perdeu a sua força. É que cada pincelada estava embebida, mais do que em óleo e pigmentos, na saudade de um filho do pintor, morto de doença uma década antes. Na tela está também, com um vigor impressionante, um preocupado reconhecimento à devoção médica do Doutor Gustav Murray, que o assistiu até à morte.
Os quatro estudos agora presentes e inspirados nesta obra de Luke Fildes, The Doctor ©Tate Gallery, não são mais do que uma expressão de emoções e propostas de perguntas. Sendo a cena original o resultado de um memory sketch de 1877, presenciado e vivido pelo pintor, qual o papel do médico nesse momento e, depois, na tela? A curar a doença, aliviar a dor, a confortar o doente e os pais? Que mais? E será que hoje…


Depois de concluir o quadro e de receber o pagamento, Luke Fildes terá comentado que teria ganho mais se entretanto tivesse estado a pintar retratos de gente rica. Ainda bem que não esteve.




Neuma est Veritas



Esta série de quadros, genericamente intitulada Neuma est Veritas (se bem que já não sejam neumas primitivos a neles figurarem mas sim a notação perene da escrita de cantochão), é um conjunto de instrumentos como se as próprias telas emitissem sons. E não emitem? Não os ouvimos mesmo tapando os ouvidos? Atravessar o tempo e o espaço. Deixar de ter os pés no chão. Perceber a verdade. Ultrapassar a mortalidade. Música!




7 comentários:

manuel cardoso disse...

...já foram vendidos dois dos quadros: Um dos The Doctor e o Ortodoxae vere.

Anónimo disse...

Manel!
Estou deslumbrado com a descoberta (o bloger e seus textos + a exposição).
Os textos deliciaram-me ontem a tarde inteira, depois de chegar ao Porto (estive 3 sem. aí em cima, de férias, sem saber da exposição). Que elegante, refinado contista já aí vai!
No próximo fim-de-semana lá estarei no Hosp. Macedo, morto por ver essas variações sobre O Médico do Lucas Fildes mas, sobretudo, essa originalidade do Neuma est Veritas. Cada um aproveita-se do que pode. Eu, MEU QUERIDO AMIGO, saboreio em si o brilho dos neurónios...

manuel cardoso disse...

Precioso vizinho de vizinha aldeia: muito obg pelo comment! Espero que tenha gostado da expo e que não tenha ficado morto! Abração amigo!

Anónimo disse...

E, claro, lá fui eu todo lampeiro à exposição. Se gostei? muito, sim. Mas tenho de confessar que fiquei de imediato emocionalmente ‘apanhado’ pelos estudos sobre «O Médico» eu, que me julgava intelectualmente preparado para o cantochão gregoriano… Se o ouvi? Em alguns havia letras esvoaçantes e belas cores fugidias que me desentupiram parte das orelhas (o ouvido fica um pouco mais fundo, próximo da mioleira, acho eu). Quando é a próxima?

manuel cardoso disse...

A partir de amanhã, dia 1 de Agosto, a exposição deixará o Hospital de Macedo e mudar-se-á para o de Bragança, com o mesmo número de quadros mas com menos os que entretanto se venderam, sendo estes substituídos por outros diferentes. Deles darei conta depois aqui no blog. Assim como darei conta dos comentários que me chegaram de pessoas que os foram ver in loco e mo participaram. Muito Obg! Sorry pela barulheira!

Anónimo disse...

You are welcome. Sinal da genialidade, que um artista poderá conter, é a capacidade de suscitar nos asnos a transformação em críticos de arte. Eu já me sinto outro...
Vou a Bragança, mas caladinho.

MCA disse...

Per omnia saecula saeculorum...