Mostrar mensagens com a etiqueta Sylphides. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Sylphides. Mostrar todas as mensagens

sábado, 18 de dezembro de 2010

MÚSICA

Habituei-me desde muito cedo a estudar com música. Gira-discos (primitivíssimo, um Dual portátil que era da minha irmã mais velha e que funcionava a pilhas) ou rádio (pré-histórico, um Phillips 38 a válvulas com esplêndido som, que o meu pai prezava muito e que quando se ligava tinha primeiro de aquecer e emitir um característico Hhummm!), a primeira coisa que eu fazia antes de abrir os livros e os cadernos na mesa do quarto era sintonizar o posto (o canal dois da Emissora Nacional ou o Rádio Clube Português) ou colocar um disco no prato (as Sylphides de Chopin em 33 rotações ou o Grand Hotel dos Procol Harum, que a minha irmã Pilar tinha trazido de Inglaterra, ou ainda os 45 rotações da Suzi Quattro que se esgotavam num ápice). Mais tarde, já na faculdade, passou a ser a RFM a onda de eleição que me tem acompanhado até hoje, em casa ou no carro, se bem que quando estou diante do écran do computador faça grandes variações com emissoras de países longínquos on-line ou com escolhas do Youtube. Enquanto estou a escrever este artigo, tenho estado a ouvir Rachmaninoff, o segundo concerto para piano e orquestra, muito romântico e arrebatador, cujos clips vou partilhando no facebook…


Música! Conjunto de sons capaz de produzir superiores sensações, capaz de nos fazer sorrir e de nos levar às lágrimas em menos de um estalar de dedos. Um estímulo à criatividade, à reflexão, à comunhão. Música! Fantástico denominador comum que junta no mesmo sítio, para assistir e participar num concerto, seja ele clássico ou pop, as pessoas mais diferentes nas suas ideias, no seu modo de estar na vida. No filme A Missão vê-se qual foi a ponte que os Jesuítas estabeleceram com os Índios para ultrapassar, num primeiro passo, o abismo civilizacional que os separava: música, Bach, como pedagogia do princípio de uma relação cultural e religiosa!

O ensino da música deveria ser obrigatório e deveria ser ampliado em todas as escolas. Ainda no número de Novembro último da Scientific American, prestigiadíssima revista científica de divulgação e debate, vem um artigo em que mais uma vez se refere que as nossas capacidades de aprendizagem se ampliam pelas profundas e perduráveis mudanças que a música é capaz de produzir no cérebro. “As escolas deveriam aumentar as suas aulas de música em vez de as cortar”, escreve-se. “A prática musical desenvolve as capacidades de prestar atenção a várias coisas ao mesmo tempo. A música não é nem deve ser um extra, mesmo que os orçamentos sejam apertados. Aprender e tocar um instrumento, para lá do prazer imenso que proporciona, aumenta a capacidade de aprendizagem e tem um efeito benéfico sobre um cérebro em desenvolvimento”.

A música tem ainda o condão extraordinário de preencher o tempo, de ultrapassar em muito o simples entretenimento. É uma das nossas melhores companhias e não só para estudar. É uma excelente companhia para nos ajudar a passar os momentos de crise. Devia haver muito mais música na escola e na vida.

(Este meu artigo foi publicado no último Mensageiro de Bragança, se bem que com alguns pormenores modificados)