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domingo, 25 de novembro de 2007

Os últimos e os outros

© Manuel Cardoso



- A casa é velha, filhos, um dia arranjem mas é outra, moderna, com máquinas, fácil de arrumar e de limpar!

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Um dos esqueletos mais bem guardados nos antigos armários da casa era loura, tinha olhos azul-água e a cara estampada dalgumas das nossas antepassadas. Dizem que foi despachada para o Brasil com a mãe, levando na bagagem um dote condicionado a não voltar a aparecer. Nunca nenhum de nós soube dela a não ser por uma frase aqui e ali, em momentos mais graves de discussão e temor.
Parece que a avó lhe fez referências, uma vez por outra, naqueles instantes de viuvez em que ainda lhe vinham à flor da alma as sombras do seu casamento com o avô, nem sempre feliz. Quase não me lembro da avó!
Mas houve outros, mais patentes, que ainda hoje se cruzam comigo na rua, com aqueles traços de família que são mais do que um vestígio genético – a evidência flagrante de antepassados comuns e muito mais recentes do que Adão e Eva. Destas e destes, não houve nenhum que me constasse ter morrido em nossa casa.
Uma das pessoas mais chegadas foi a que foi ama de meu Pai. Ficou sempre a governanta da casa e foi da família muito mais que outros que tiveram dela o apelido e a sorte. Mandou ali dentro com a determinação das avós lendárias do século dezoito, senhoras do seu nariz e doutras coisas dos homens e verdadeiras fundadoras dos cabedais que aguentaram toda a parentela durante os dois séculos seguintes. Mas também esteve cá com mansidão e com a delicadeza das mais santas e mais apagadas, dotadas daquela discrição firme que se revela como uma rocha nos momentos mais instáveis dos dramas íntimos de cada família – dotadas também daquele génio que, nos momentos precisos, arrasa qualquer obstáculo. Morreu no quarto das duas camas, depois de uma agonia que lhe desfez definitivamente o fígado. Lembro-me apenas que respirava a espaços como se gorgolejasse e que exalava um hálito pestilento. Quando já não respirava nem palpitava, o pai e a mãe enfiaram-lhe na boca um algodão embebido em álcool canforado, na vã tentativa de disfarçar o cheiro. Foi levada para a sua aldeia, já morta, muito sentada e direita, de automóvel, num táxi cujo chauffeur ainda protestou qualquer coisa quando a viu soçobrar. Desta história ficou um eco ainda vivo nas histórias de ócio nos cafés da terra. Foi a última pessoa da casa a morrer na casa.
Houve tantos a morrer aqui! Alguns no berço ainda, outros já maiores, houve mesmo um pedinte, ainda no tempo do trisavô morgado, que, numa noite de temporal desabrigado, conseguiu que o ouvissem a mal bater, já sem forças, na pesadona porta da cozinha velha que dava para a varanda das galinhas. Entrou para ao pé do lume, onde a criadagem lhe deu um caldo quente e lhe secou a roupa. O homem tremia e tartamudeava qualquer coisa. Morreu aconchegado numas mantas. Que estranha casa, a que se vinha pedir para cá morrer!
A avó morreu pouco depois de eu nascer mas não morreu na casa. Lembro-me muito vagamente de ver bombeiros com capacetes reluzentes a ir junto da cama dela, uma cama grande, D.José, com dossel, na casa das tias, em frente à nossa, onde passara os últimos anos com as irmãs, a Tina e a Ticha. Trouxeram-na para a casa para se lhe rezar e para ser velada.
A irmã mais nova do Pai morreu ainda menina, no ano em que a monarquia se preparava também para morrer. Foi um prenúncio de infelicidades ainda maiores na casa, que os avós quase acabavam de reinaugurar, depois de umas obras posteriores a partilhas.
O tio Alberto, o mais velho, morreu em Lourenço Marques no início dos setenta e a tia Lygia morreu muito antes e muito nova, em trinta e nove e com apenas 34 anos, deixando órfãos os três primos Malheiro: o José, o João e o Chico.
O pai também não morreu na casa. Aliás, saiu de casa para morrer. Lembro-me nitidamente – como poderia esquecer?
De tarde sentiu-se indisposto e com uma dor contínua no peito que se foi esbatendo. Depois de jantar foi até ao Café Central onde esteve com amigos, conversou, gracejou até e ainda passeou com a Pilar, que estava cá porque era fim-de-semana comprido do Corpo de Deus. Sentiu-se, então, pior. Voltou para casa e dali foi para o hospital (um hospital que ele próprio ajudara a construir no Estado Novo e para o qual lhe arranjara algum dinheiro o Frederico Ulrich, então ministro, e no qual nascemos todos os irmãos, excepto o mais velho, tido na casa). A Mãe e a Dulce telefonaram-me, estava eu em Travanca. O Álvaro levou-me ao hospital. O pai estava deitado numa marquesa, o Dr. Simão e o Dr. Urze inclinados sobre ele a fazer-lhe uma massagem cardio-pulmonar. A irmã Judite estava junto. Vi-o ainda a respirar ofegante e profundamente, duas ou três vêzes. Estava morto. Apareceu entretanto o Padre Melo que ainda o ungiu. Levei-o para casa numa ambulância. Fui buscar um caixão. Foi o último da casa que foi velado em casa, no quarto do pátio. Foi o último dos irmãos a morrer.
Foi o último a morrer que foi velado na casa.

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- A casa é velha, filhos, um dia arranjem mas é outra, moderna, com máquinas, fácil de arrumar e de limpar!
Esta frase, ouvida vezes sem conta a minha mãe que a soltava num misto de queixume revoltado e de desesperança, irritou sempre de modo especial a minha irmã Margarida para quem a afirmação era mais do que uma ofensa. E se, então, fosse dita num momento de suspiro, diante de uma parede em que a água infiltrada desenhava modelos elaborados do caos, ou depois de uma manhã de limpezas num quarto, em que um tecto de estuque caído fazia uma simulação de guerra, nesses momentos era ainda mais insuportável a ambas: à minha mãe conter-se e à minha irmã ouvi-la:
- A casa é velha, está uma choupana, vão-se mas é embora, meus filhos, isto está tudo a cair!
Levei anos a compreender aquela atitude. De ambas.
A primeira vez que a mãe vira a casa fora dias depois de casar.
Conhecera o meu pai na Guarda, no sanatório, para onde tinham ido nos anos trinta. O pai tinha vindo tuberculoso de Moçambique e a mãe tinha vindo com a tia Aida de Lisboa. Todos tinham chegado à Guarda como quem vai para uma estação de destino – quem diria que seria apenas um apeadeiro?
Decorria a II Grande Guerra quando casaram na igreja de Nª.Sª.de Fátima, ainda em obras, às Avenidas Novas, em Lisboa. Dias depois, a mãe vê-se diante de um meio solar dividido em partilhas de que nunca ouvira falar porque o pai falava sempre na casa.
A mãe chegava como quem ia para um chá na Pastelaria Versailles ou para um passeio a uma esplanada no Jardim da Estrela ou no Campo Grande: chapéu, carteira e sapatos brancos, tailleur de verão com saia curta por cima do joelho, pálpebras e lábios lilases. Foi um choque.
Um bando de outra idade estava à espera no pátio, vestidos de escuro como se ainda velassem por D.Carlos e o Príncipe, tias e tios, primalhada curiosa de ver quem é que o pai trouxera de Lisboa, para uma casa que fora sempre amarga para as mulheres. Amarga para a avó e para as duas filhas que ela tivera, ambas mortas, uma com mêses de idade e a outra, a tia Lygia, tristeza ainda recente, a que deixara os tais três filhos rapazes.
A mãe entrava no pátio, escuro naquela tarde de Outubro de 42, sentindo que uma indefinível hostilidade brotava daquelas paredes.
A pouco e pouco foi mudando algumas coisas. Os soalhos, de esfrega à mão por criadas que, de joelhos, os passavam a escova e sabão, começaram a ser de cêra e lustro puxado. As paredes, de uma cal antiga, nas quais se recortavam as manchas castanhas dos quadros pendurados há décadas e detrás dos quais fugia uma multidão de percevejos quando se remexiam para limpar o pó, foram pintadas de fresco.
O primeiro Inverno foi frio, como o são os de Trás-os-Montes e, à temperatura baixa, com a água a congelar nos canos, vieram juntar-se as contingências do racionamento e da Guerra, a electricidade disponível apenas por horas e a cintilar a espaços, a simpatia apenas educada dos sogros. Além do mais, na casa vivia muita gente, muita mais gente do que a mãe gostaria: os meus avós, sendo que o avô estava já com uma aterosclerose avançada e davam-lhe ataques, os Malheiro, o pai deles e a criadagem, a velha Leonida e as ajudantes.
Do desconforto do frio passava-se para o tórrido do Verão. A mãe tinha preferido o Inverno, o calor fora-lhe sempre insuportável.
Para ter tempo só para si, deixava-se ficar a ler até tarde, na varanda ou na sala, e com o vagar das horas recomeçara até a escrever, como já o fizera em Lisboa em solteira. Ficava normalmente até o petróleo estar a acabar no depósito bojudo de um candeeiro francês, portas abertas para a varanda, escuridão lá fora de onde vinha apenas o ruído constante e agradável da fonte da praça, dos grilos e do canto compassado dos rouxinóis e dos melros, a responder do fundo das hortas.
O pai da minha mãe, militar de carreira, republicano e extremamente racionalista, não instruíra os filhos na religião católica. As convicções da mãe neste domínio formaram-se muito tarde, e foi já depois de casada que aderiu de alma e coração e de tal modo que ficou com aquela fé dos convertidos, muito mais fundamentalista e intolerante do que a dos tradicionalistas como o meu pai, mais aberto e compreensivo, a acreditar mais na redenção do que no castigo final. Na época em que veio para Trás-os-Montes, a mãe ainda não era uma católica convicta, convicta a sério... seria antes uma racionalista praticante. E com aquela tendência que todos temos para adaptar um pouco a religião a nós próprios, pode dizer-se que a mãe começou por praticar mesmo um catolicismo racional.
Na época foi assim – a fé veio depois, e reforçada. Mas, por isso, nunca aceitara até aí que o sobrenatural pudesse estar no dia a dia da vida de cada um – e nunca o aceitou. Tudo o que lhe contassem que fosse sobrenatural teria concerteza uma explicação racional.
Numa dessas noites abafadas de Julho, silêncio cortado apenas por uma ou outra melga que volitava, a mãe escrevia na sala. Embrenhada no texto, não se apercebeu logo de um ruído ritmado e surdo que parecia vir do tecto. Quando notou, achou estranho: por cima do tecto não havia nada, apenas o terceiro, o sótão em bruto que ficava sob o telhado, como podia produzir-se aí um ruído daqueles?! Prestando melhor atenção...o ruído desaparecia. Depois voltava, mais nítido, mais insistente... então parava. Entretanto apareceu por ali o meu pai. Também ouvia, havia ali qualquer coisa a mexer-se. Pegaram num candeeiro de azeite e avançaram para o sótão. Quando abriram a porta puderam ver que, sobre um estrado poeeirento de tábuas, o velho berço de baloiço da casa oscilava sozinho.
Para uma racionalista, foi um episódio algo perturbador, embora a mãe tivesse arranjado uma explicação arejada sobre poder ter sido uma brincadeira de gatos – e os gatos são dados a brincadeiras do género e na casa havia vários. Pelo sim pelo não, o berço que as mãos da tia Lygia tinham empurrado pela última vez e que agora estaria na iminência de ser empurrado pelas da minha mãe, uma estranha na casa, foi arrumado longe, no palheiro, e não serviu mais, nem sequer para o mais velho dos meus irmãos. A mãe mandou vir um berço novo de Lisboa, de rodas com molas e caixa forrada de pergamóide.
A vida da mãe, cá em casa, foi sempre difícil. Crónicas faltas de água, repetidas reparações do telhado e dos tectos, incêndios na cozinha, complicadas teias de relacionamento com a família de meu pai, periódicas dificuldades financeiras. As revistas que chegavam cá e traziam a propaganda alemã, inglesa e americana alimentaram no seu espírito a firme certeza de que a vida americana era a melhor: recurso a meios modernos, electricidade para tudo, sociedade sem preconceitos, casas fáceis de manter. Ainda me lembro de a ouvir dizer ao meu pai, onze anos mais velho e de saúde sempre problemática, num misto de coisa séria, sonho impossível e testemunho para nós, os filhos:
- Devíamos era ir para a América, começar vida nova, nem que fosse lavar pratos. Lá é tudo moderno, é tudo mais fácil!...
Somos seis irmãos. O mais velho é o Carlos, depois a Lígia, a Guida, a Pilar, a Dulce e, no fim, a meia dúzia de anos de distância, eu. Quando as manas eram pequenas, dormiam no quarto lá de cima, o da janela do mirante, paredes-meias com o terceiro e ao cimo das escadas em meio caracol de madeira.
Numa noite em que as luzes já estavam apagadas mas em que ainda conversavam, começaram a ouvir dois sons alternados, um surdo e outro de madeira a martelar madeira, corredor adiante, como de alguém com perna de pau que avança. Primeiro pensaram ser sugestão e os sons virem da rua, mas, a certa altura, notaram distintamente que o alguém subia as escadas na direcção do quarto. Começaram então a chamar alto e bom som pelo pai.
Rapidamente, quem quer que fosse se escapuliu corredor adiante em direcção à saleta. O pai acorreu, inteirou-se do sucedido e passou revista às portas e janelas. Não viu ninguém. As portas e janelas estavam todas fechadas por dentro. Oficialmente, ao almoço do dia seguinte, a avó cunhou a versão, concertada durante a manhã em conversas semiescondidas com o pai, de que teriam sido, ela e a sua bengala, as noctívagas misteriosas. Só que a bengala da avó tinha ponta de borracha...
Uma outra vez, já mais crescidas, ocupavam o quarto das duas camas. A meio da noite notaram um ponto de luz pairando sobre os pés da cama e que se movia, aumentando de volume e aproximando-se, baixando sobre a colcha. Mais uma vez desataram a chamar o pai em brados, que veio correndo e que, ao abrir a porta do quarto delas, esboçou um ar de espanto e recuou, logo recobrando a serenidade e procurando sossegá-las.
Ambos os episódios foram contados e recontados já muitas vêzes ao longo dos anos e até têm servido para fazermos brincadeiras sobre fantasmas e coisas do género a propósito. Contudo, nenhum dos episódios teve uma explicação cabal, várias vêzes foram motivo de conversa mas de nenhuma conclusão e os nossos pais sempre procuraram desvalorizá-los, atribuí-los a sugestões e a pesadelos.

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A vinda com a Mariana comigo para a casa, mais de quarenta anos depois da minha mãe, implicou fazermos obras na casa para adaptarmos o rés-do-chão a ser o nosso apartamento de casados. Na antiga adega fizemos a sala com a lareira, na antiga despensa, quarto dos cestos e casa dos banhos fizemos o quarto da filharada, corredor e uma casa de banho. O nosso quarto ficava no que dantes era a loja das batatas e a respectiva casa de banho ocupa agora o antigo galinheiro pequeno.
A Mariana, tal como a minha mãe, também veio de fora para a casa. Tivemos três incêndios na chaminé e algumas inundações. Tudo acontece ou se inicia quando eu não estou. Essas peripécias, às vêzes pequenos nadas, foram avolumando em nós ao longo dos anos um sentimento de já basta, de exaustão. Decidimos um dia mudar de casa, até porque os nossos filhos vão crescendo e começámos a necessitar de mais espaço.
E decidimos, até, mais do que isso: deixar definitivamente esta casa. Curioso que, sempre que pensava nisso, inspirava-se-me um sentimento de alívio. E sempre que hesitávamos, sempre que por um instante nos assaltava a vontade de prolongar ainda um pouco mais a nossa estadia ali, algo acontecia como que a empurrar-nos a pôr-nos dali para fora.
As últimas reparações depois de um dos incêndios que tivemos puseram a sala confortável como ainda nunca a tínhamos tido. Talvez nos tenha assaltado a ideia de ficar mais um pouco, sentir a sala assim quente e afável. De imediato uma chuvada veio argumentar o contrário, arranjou maneira de se infiltrar pelo canto da televisão, molhou tudo, íamos ficando sem parabólica e sem canais por satélite. Reparei rapidamente os estragos – nova infiltração na parede mestra que ficou inchumbada de água, ressumando humidade para todo o ambiente, tornando desconfortável como nunca a sala que estava acolhedora como nunca!
Já por duas vêzes distintas, eu já quase a adormecer, ouvira nitidamente como num filme de alucinação, no nosso quarto, vozes explícitas numa conversa breve e urgente:
- Diz-me quem, diz-me quem!
A que uma voz aflita respondia um queixume:
- Não, mãe! Não, mãe!
- Mas por que é que...
E neste momento o diálogo interrompia-se, eu levantava a cabeça da almofada e perguntava à Mariana se ouvira também. A Mariana também ouvira. Apesar das dúvidas fui várias vêzes à casa paredes meias com a nossa, a tal metade do solar que as partilhas partiram, ver se nas lojas térreas havia pegadas frescas, mas em vão. Um das noites fui mesmo à polícia...”ora, senhor dr., isso lá é algum namoro às escondidas!”. Só que as vozes não eram de namorados, eram vozes mesmo aflitas, numa conversa rápida de sussurro mal disfarçado.
E acontecia-me muitas vêzes estar precisamente no mesmo quarto com a clara sensação de que estava ali mais alguém, de que aquela torneira a pingar eu tinha fechado antes, aquela gaveta mal metida para dentro eu tinha composto há instantes. O nosso quarto estava com infiltrações nas paredes que vinham desde o telhado, dois pisos acima, de um velho caleiro de zinco podre. E o chão, de tijoleira vermelha, estava a esboroar de humidades capilares. A um canto, o salitre estava já a carcomer uma parede rebocada de novo ainda só há meia dúzia de anos.

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- A casa é velha, filhos, um dia arranjem mas é outra, mais moderna, mais nova!

Esta frase da minha mãe foi produzida, a primeira vez, nunca soube eu quando. Talvez lhe tenha ocorrido pela primeira vez logo depois de, no pátio de entrada da casa, ter entrado, pelo braço de meu pai, e ter visto todos os outros.
Foi sempre impossível à minha irmã Margarida ouvir essa frase sem ripostar. Talvez que se tenha sempre sentido parte orgânica da casa. É que eu não sei explicar porquê mas quando imagino a cena da mãe toda up to date de Lisboa anos quarenta a entrar no pátio, pelo braço do meu pai, e toda aquela parentela grave ali postada à espera de poder fazer o cumprimento de boas vindas, de casaca preta, vejo nitidamente, num dos degraus de granito das escadas, em pé e ao lado de um vaso de folhas verdes de aspidistra, a cara sorridente, francamente sorridente, da minha irmã Margarida, - como se fosse a cena final do Shining, ! –, no meio dos semblantes sorridentes, cerimoniosamente sorridentes, de todos os outros.