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terça-feira, 5 de agosto de 2008

Expor em Bragança



O concerto www.youtube.com/watch?v=aOocxj4bEO4 em Lá Maior para cravo, de Carlos Seixas, é uma das mais notáveis peças de música clássica portuguesa, é quase redundante dizê-lo. E as sonatas para cravo são qualquer coisa de apetecível, até para dançar. Parecem ter gás, como o champagne. Carlos Seixas (1704-1742), aliás José António Carlos Seixas, foi um dos mais talentosos compositores e executantes portugueses e que viveu no período de ouro da nossa história, na primeira metade do século XVIII. A sua música é ainda real e extremamente actual no ritmo, na sonoridade e na inspiração que provoca. Os dois trabalhos a óleo presentes nesta exposição pretendem misturar a sua sugestão com o Verão. Alguém tem um cravo? E água?

Fui colocar os quadros em Bragança, no Hospital, num fim de tarde quente de Verão, depois de um dia cheio de peripécias e de trabalho. Ainda por cima tivemos de ir de vidros abertos, o Manuel, eu e uma amiga e colega dele, porque o ar condicionado da Primera que comprámos aos primos está com uma avaria e aquece por duas das saídas enquanto arrefece por outra! O rádio também não funciona pelo que levei o MP3 ligado e fiz todo o trajecto do IP4 com música (alguém de hé vinte e cinco anos não perceberia patavina deste parágrafo!).

Esta exposição (assim como a visão de qualquer destes quadros, em casa ou em qualquer lugar) é impossível de ser compreendida sem música, excepto quando se está perante os três estudos que restam do The Doctor. Para esses recomendo silêncio. Silêncio mesmo. De certeza que ouviremos vozes dentro de nós. Quanto aos três que sobram da série de música de cantochão, é como se quiser. Posso revelar que os pintei a ouvir Rachmaninov, o concerto número 2 para piano com o segundo andamento em repeat. Enquanto preparei os tons ou resolvi as inevitáveis dificuldades, Fly, de Sarah Brightman, o álbum todo, muitas vezes. E todos os dias, sol nascido, só no sótão de Latães, luz a aumentar e a lembrar-me que a essa hora a Mariana e os filhotes estarão a acordar, em Macedo e em Lisboa, Faith Hill, imensas dela. Não se riam. Mesmo quando já ninguém ouvir Faith Hill, it will be me!

terça-feira, 15 de julho de 2008

primeira exposição individual






A partir de 15 de Julho de 2008 e até ao último dia do mês, uma pequena exposição de telas a óleo estará patente no Hospital de Macedo de Cavaleiros. Para os que não possam ir vê-la in loco, aqui se deixam algumas anotações. São oito trabalhos em duas séries de quatro.



The Doctor, emoções I, II, III, IIII





Sir Henry Tate encomendou a Luke Fildes, em 1887, um quadro de grande realismo e intensidade emocional, grande também nas medidas (166,4 cm * 241,9 cm) e no preço (3000£). A obra ficou terminada em 1891, foi apresentada por Sir Henry Tate em 1894 e, desde então, tem sido reproduzida milhões de vezes em litografias, gravuras, selos, postais, posters, etc.
Apesar de omnipresente e vulgarizada nos estabelecimentos médicos um pouco por toda a Europa e por todo o Mundo, nem por isso perdeu a sua força. É que cada pincelada estava embebida, mais do que em óleo e pigmentos, na saudade de um filho do pintor, morto de doença uma década antes. Na tela está também, com um vigor impressionante, um preocupado reconhecimento à devoção médica do Doutor Gustav Murray, que o assistiu até à morte.
Os quatro estudos agora presentes e inspirados nesta obra de Luke Fildes, The Doctor ©Tate Gallery, não são mais do que uma expressão de emoções e propostas de perguntas. Sendo a cena original o resultado de um memory sketch de 1877, presenciado e vivido pelo pintor, qual o papel do médico nesse momento e, depois, na tela? A curar a doença, aliviar a dor, a confortar o doente e os pais? Que mais? E será que hoje…


Depois de concluir o quadro e de receber o pagamento, Luke Fildes terá comentado que teria ganho mais se entretanto tivesse estado a pintar retratos de gente rica. Ainda bem que não esteve.




Neuma est Veritas



Esta série de quadros, genericamente intitulada Neuma est Veritas (se bem que já não sejam neumas primitivos a neles figurarem mas sim a notação perene da escrita de cantochão), é um conjunto de instrumentos como se as próprias telas emitissem sons. E não emitem? Não os ouvimos mesmo tapando os ouvidos? Atravessar o tempo e o espaço. Deixar de ter os pés no chão. Perceber a verdade. Ultrapassar a mortalidade. Música!