domingo, 7 de agosto de 2011

A SERRA DE BORNES

Iniciamos a publicação de uma série de artigos que têm estado a sair mensalmente n'O Comércio de Macedo, sobre a Serra de Bornes. Este foi o primeiro.

A Serra de Bornes vale mais do que um artigo. E vale bem. A sua silhueta é inconfundível, cheia de carácter, o perfil de uma mulher deitada para os mais poetas. Dizem os peritos que geograficamente é uma montanha. Sê-lo-á. Montemé chamavam-lhe os antigos, Montoio diziam ser o nome da parte mais baixa, que desce para Caravelas, Cedães e Vale de Asnes. Serra de Chacim era o nome de quem a via a partir de Balsamão. Serra de Soeima, para quem a vê de Sul, do vale profundo da Ribeira de Zacarias. Para nós, mesmo no século XXI, é a Serra de Bornes!


As memórias antigas também a dão povoada de javalis e corços, tal como agora a conhecemos. Couto de lobos (de poucos lobos, infelizmente…) nos vales que a sulcam, com guarida certa nas matas de carvalhos e castanheiros que a cobrem de forma magnífica. O colorido da serra está nestas matas e nos tons das encostas, de um verde cambiante misturado com a cinza dos troncos dos carvalhos, e das folhas profundas dos castanheiros com mais verde e vermelho-fogo, no Outono. Quem nunca experimentou o que é andar nestas matas quando a folha está prestes a cair, não experimentou a sensação incrível de se embriagar de cores e dos cheiros fortes que a natureza dá. Cores com cheiro - e sem ser de flores. Matas em que se pode andar também agora, na Primavera, com os rebentos a querer brotar, com a seiva a despertar para a pujança da serra.

Quando se vai de Carrapatas para os Cortiços e se olha para a serra, vê-se mudar de cor com o andamento do carro e com as horas do dia. Vê-se mudar. Há dias em que parece mais perto, outros mais longe. Desafia a observação e alimenta a imaginação. Tal como de manhã, ao descer-se de Latães em direcção a Macedo, a serra parece comungar da nossa pressa em começar o dia. As ventoinhas aceleram a essa hora. O seu contorno ergue-se acima da bruma da manhã que corre no vale, misturada com o fumo das lareiras a acender-se. Castelãos, Vilar, Grijó, Vale Benfeito e Bornes aparecem a essa hora como uma pincelada de um pintor desatento, garatuja feita a traçar estradas e obras.

Para lá de tudo o que se possa pensar, a serra consegue surpreender-nos. Uma tarde, ao vir de Espanha por Vinhais, ainda longíssimo, de repente, sem contar, quem é que aparece lá muito ao fundo, no horizonte, cinzenta-azulada a espreitar sobre os montes mais próximos? E de outra vez, no fundo da veiga de Chaves, decididos a ir ao castelo de Monforte do Rio Livre, quem é que vemos num recorte nítido, quase tão azul como o céu, sobre o castanho dos montes do planalto? Ao percorrer-se o planalto de Carrazeda, o chão da Vilariça, as encostas do Reboredo ou o planalto de Mogadouro e Miranda, quem se impõe omnipresente, correndo lá longe onde a vista alcança?

O emprego feito acima da palavra “quem”, é porque a sua presença é mais do que a dum mero acidente físico, é a duma entidade que há milénios pontifica no centro da nossa região. Não seria compreensível o nosso espaço sem a Serra de Bornes. Tal como em tempos terá dividido povos, hoje marca o território, chamando a atenção com os seus 1212 metros com uma serenidade familiar de quem quer ter à volta uma família de gente.

À hora do por-do-sol a serra não desaparece. Brilha na obscuridade, noite dentro. Então hoje em dia, com as luzes das eólicas, afirma bem a sua existência. Mas abstraindo desses flashs brancos e vermelhos, brota luar de dentro de si, fica prateada em Janeiro, em noites de geada, fica prateada em Julho e em Agosto, nas noites em que o calor a envolve.

A Serra de Bornes vale mais do que um artigo, pois vale. Iremos falar da Serra de Bornes nos tempos mais próximos!

terça-feira, 17 de maio de 2011

Ti Manel Xeringa, de Carla Ferreira

No passado dia 13 de Maio, no CC de Macedo de Cavaleiros, coube-me a grata tarefa de apresentar um livro. Todos nós conhecemos muitos tipos de livros. Uns são de poesia, outros são romances, outros de contos, outros de ensaios, técnicos, cor-de-rosa, grossos, finos, tudo o que quiserem. Mas o que eu estive a apresentar é um livro especial, muito especial. Porque é um livro sobre a ternura.


Ti Manel Xeringa, de Carla Ferreira, é uma colecção de emoções, de amor e regresso à infância, de amor e respeito pela velhice.

Foi fácil apresentar este livro porque a autora escreveu nele tudo o que há a dizer numa apresentação: a “breve nota” com que o abre tem tudo - até da alma de quem escreve - escancarada como nos coloca a revelação do seu locus amoenus, Nozelos: “um lugar onde todos se conhecem, homens fabricados pelo trabalho duro da terra, mulheres de luta e crianças felizes. Histórias que segui com admiração e que sem as quais nunca agradeceria com veracidade tudo o que tenho e sou. Vidas simples, sem grandes ambições, gente que chora as derrotas e celebra as vitórias. Tenho orgulho em pertencer a este lugar, onde as brincadeiras ao ar livre, no meio da rua, com paus e pedras como brinquedos, as aventuras eram reais e todos eram heróis e heroínas.”

Trata-se de um livro de histórias evocadoras de momentos e vivências da infância da autora, passada na companhia do avô - o Ti Manel Xeringa - nos períodos de férias. Histórias reais que celebram uma infância à qual a autora se agarra como elemento basilar da sua concepção do mundo. Em todas elas há uma dinâmica própria que gira na órbita da vida de ambos e uma preocupação de respeito pelos valores da família forjadores de um carácter, não no sentido piegas nem balofo mas no sentido mais puro do que as palavras querem dizer, no seu sentido mais arcaico e perto das raízes - Nozelos é um lugar arcaico e enraizado nos primórdios, na volta de um rio, encaixado num vale em que os nossos avós pré-históricos acharam a facilidade da água e a bondade da terra. Estando-se em Nozelos, o horizonte à volta corre muitos metros por cima e só se vê um entorno de montes e o céu, um curto céu. Se a vista não chega, há a imaginação. E nesse mundo entre a casa, as hortas e olivais, a rua e a igrejinha, cresceu a sólida relação entre avô e neta cujo atravessar do tempo nos conduziu a estas páginas.

Não é preciso dizer quem era o Ti Manel Xeringa: foi um fazedor, um fazedor de encantos, um descobridor da beleza, o pedagogo da noção de estética, de belo e de maravilhoso a uma criança. É o personagem cerne deste que também é um livro de memórias. Memórias não só da infância como de um velho ciclo, tão antigo como a civilização, em que o homem vive nos seus ritmos à medida dos dias, do sol, da lua, do tempo que leva o milho a crescer e a azeitona a ficar preta.

Comecei por dizer que se trata de um livro de ternura. Termino a dizer que o livro em si termina também com ternura. Não só a do presépio, que nos aparece nessa última história como uma inesperada novidade num tema em que a novidade é difícil, não só a dos presentes dados pelo Menino Jesus em dia de Natal. Mas porque o Ti Manel Xeringa, ao dizer que “Deus seja louvado por tudo isto!” queria dizer, cheio de ternura, que esse “tudo isto” era a família unida e feliz. Síntese tão bem feita, do tamanho do mundo, só é possível a uma pessoa, neste caso a Carla Ferreira, capaz de ter em si “todos os sonhos do mundo”…

quarta-feira, 9 de março de 2011

O Rio Azibo

O Azibo em dia de cheia em Vale da Porca. Foto de Adérito Choupina.
Temos vindo a percorrer, desde há uma dezena de artigos, o rio Azibo, desde a sua nascente, em Rebordainhos, até à sua foz, no Sabor. Mas ainda não chegámos lá. Nem chegaremos hoje. Tínhamos ficado, na nossa última etapa, pelas imediações da Ponte de Balsamão, também chamada de Ponte da Paradinha de Besteiros, por onde se pode alcançar a Sobreda. É um bom momento e um bom sítio para pararmos e fazermos alguma reflexão, antes de continuarmos. É que se o passeio por um rio é uma boa maneira de passar o tempo, de distrair e de descontrair, de espairecer por outros sons, aromas e paisagens que não os da rotina do nosso dia a dia, também é uma boa oportunidade para pensarmos. E hoje venho propor que se pense na confrangedora ignorância que temos acerca da nossa terra. À força de todos os dias pisarmos os mesmos passeios, dizermos o nome das mesmas aldeias e olharmos o mesmo recorte do horizonte, acabamos por já não ver, na sua variedade, interesse e beleza, a terra onde vivemos. Prendemo-nos a conversar e a discutir pormenores batidos e perdemos com isso o tempo de passear, de conhecer, de ficar a amar mais ainda este torrão onde se passa a nossa vida.


Porque não há só o Azibo, com Podence e Azibeiro, Santa Combinha e Vale da Porca, sempre as mais faladas. Nem há só o Monte de Morais. Nem tão-pouco a Serra de Bornes com o Monte do Vilar – o lendário Montemé. Se bem que estes só por si mereçam mais do que uma excursão, mais do que muitos fins de semana de visita e deslumbramento, desde Chacim a Malta e aos Olmos, a Grijó, Vale Benfeito, Bornes e Burga – onde nasce um rio, a Ribeira da Vilariça! Há a Serra do Cubo com Vale de Prados e Arrifana como ponto de partida, a medir a distância. Há a Serra de Bousende, com os seus mistérios, lendas de pedra e lumes velhos em Soutelo, Vilar de Ouro, Cabanas, Espadanedo e Valongo, a sua paisagem e a sua vista fantástica sobre uma boa parte do Norte de Portugal, sobre Espanha, sobre o nosso próprio encantamento de a poder desfrutar. Há Edroso e o seu Santo António, a velha Moimentinha, com um caminho histórico para Comunhas. Há o rio de Macedo, com as suas margens de uma inacessibilidade de descoberta e sensação de se estar num destino turístico digno de uma reportagem do National Geographic Magazine, salpicado por escavações à procura de fortunas de que as Minas de Murçós são a eminência mais visível. Há a ribeira de Carvalhais, com as suas histórias desde Castelãos, os seus fundões misteriosos e todo o vale encravado entre a Cernadela, os Cortiços, Carrapatas e os termos de Bornes e Vale Benfeito. Há a Serra de Ala, espreguiçada desde o Morgadio e o Cabo dos Cortiços, a passar pelo Monte do Facho, montes de Pinhovelo e Vale Pradinhos, estendendo-se à Santa Madalena da Amendoeira, à Senhora do Campo de Lamas, a Gradíssimo e à Senhora da Guia de Nogueirinha, às Alturas de Latães, às encostas para a Carrapatinha e Chorence, para Corujas e para a Ribeira de Codes, todos os dias percorrida por javalis, corços e veados que se descobrem nos amanheceres e nos pores-do-sol que aqui adquirem umas tonalidades de filme de ficção. Pelo meio fica o planalto de Sesulfe com o Convento das Flores, do Brinço com o São Roque.

Para Norte, esses vales silenciosos mas cheios de vida que cercam os serros de Ferreira e Mogrão, de Meles, que cavam vistas abruptas entre as Arcas, os Vilarinhos do Monte e de Agrochão, que se dirigem a Nozelos e ao Tuela onde Argana, Vila Nova da Rainha, Fornos de Ledra e Lamalonga testemunham os velhos itinerários de que a história, a História, também passou por aqui, a falar latim e a falar idiomas arcaicos.

É um crime que se desconheça o nosso concelho! É um crime cultural conhecer Peredo só pela estrada nacional, ir ao Lombo e não sair da aldeia, passar em Castro Roupal, em Vinhas, em Salselas ou em Valdrez e nem perguntar ao menos porque é que aquelas terras terão tal nome, de que é que viviam os que dantes nelas fizeram as suas primeiras paredes. Que é que lhes fica à volta? E se então os nossos dias nos levarem a Talhas, a Lagoa, a Gralhós, a Bagueixe, a Talhinhas, aí temos um mundo a descobrir que nada deixa a desejar de tantos sítios bem longe que vemos na televisão. Os velhos caminhos entre as povoações não nos levam só a destinos desconhecidos: levam-nos até ao destino certo de uma aventura.

E se nos vendassem os olhos e só no-los destapassem nalguns pontos da Ribeira de Vilalva (ou ribeira de Vale de Moinhos) ou nas encostas sobre o Sabor, então diríamos que fora mágico o tempo decorrido no breve espaço em que nos tinham levado até ao cenário de capítulos de um livro de cortar a respiração! Quem não tiver ido aos Castelos, a Talhas ou em Lagoa, e não tiver estado um bocado em silêncio e respeito, a olhar a água lá em baixo, não sabe de todo de que a nossa terra também é feita de algo arrebatador e que nos cala.


Para o próximo mês continuaremos a descer o Azibo. Mas pensemos desde já em conhecer o resto – e o resto é muito mais! E para os que passam a sua vida na cidade, entre Macedo e Travanca ou nas aldeias mais perto, todos estes destinos a minutos de casa valem por muitos a horas de voo! Podem crer.



Manuel Cardoso



(artigo número 10 da série sobre o rio Azibo que foi publicada em 2010-2011 no jornal O Comércio de Macedo).





sábado, 26 de fevereiro de 2011

A ARCA DE MÚSICA

©Manuel Cardoso


Numa velha arca, no meio de papéis ratados,

Apareceu uma folha de música.

Muito antiga, manchada dos anos, de sangues, de tintas,

Com pautas de quatro linhas, vermelhas, riscas à mão.

Só de se olhar nela se ouvia o cantochão,

Forte, profundo, de lentos hinos cantados,

Ecos nas pedras da abóbada, nas colunas gémeas dos claustros.

Sons que iluminavam vitrais doutros tempos de conversão.

Tapando a folha, parava o canto.

Seria feitiço ou coisa de santo,

Sortilégio assim?

Dizia-se que essa velha arca fora um dia,

Tirada do coro, (antes servia de baú de pergaminhos de músicos),

Relegada para um canto, desprezada!,

Para um canto escondido da abadia.

Dizia-se que nela um noviço se sentara,

Num ensaio de canto de horas esquecidas,

E se distraíra na surpresa de um perfil

De uma dama que a ouvi-lo se detera.

- De onde vem tão bela voz? Dissera ela.

- Da arca! respondeu ele, emudecendo.

Ficando roxo de tal presença, preso de tamanho encanto.

E aflito. Que dizer ou que fugir?!

Mas ficara. E ela, aproximando-se, acreditando na palavra tonsurada,

Deu alguns passos, olhou para ele e a abriu.

Um canto celeste então se ouviu,

Em latim, a voz dos anjos que há cá na terra.

Fugindo, o noviço não mais parou até ao pátio,

Deixando atrás de si caída a folha.

Ela a tomou, a enrolou e a guardou.



Que ali há bruxa, que ali há demo, que ali há…

Sufocando, não mais atinou nem com o canto nem com ela.

Para sempre gago.

Ninguém viu a senhora do perfil,

Nem então, nem nunca mais.

Diziam ao noviço que atarantava:

- Foi visão, foi das horas do jejum, nada demais!

Mas ele teimava em que não, que em carne e roupa a vira ali.

E apontava, olhando o coro, de cá de baixo, com mui temor.

Levaram-no de braços até lá acima: lá estava a arca.

Fechada e muda.

Levantaram a tampa pela dobradiça. Silêncio e pó.

Cheiro de tinta, de ceras de pergaminho.

E então ele, pegando a folha, pautas escarlates, ali pousada,

Depressa pensou, coisa tão louca!

Que alguém tivera que a trazer, que a arrecadar.

Fez o gesto de a desenrolar, seria um cabelo?!

Um hino celeste então se ouviu,

Em latim, a voz dos anjos que há cá na terra, um canto belo.

Fugiram todos sem mais parar.



(É então que jogral ou bufo pega em barrete,

Com ele na mão o estende à gente,

Sorriso franco e voz de falsete:

Uma moedinha, senhores, uma moedinha…)



E recomeça:

Numa velha arca, no meio de papéis ratados…

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Cónego António Figueiredo

Mais do que por objectos e obras de arte em si, a vida das pessoas é tocada pela vida de outras pessoas. De uma forma intensa e que, por vezes, se torna indelével. Quando as pessoas que nos tocam têm essa faculdade. O Cónego António Figueiredo tinha-a.


Conta o escritor António Pires Cabral que, quando estava em férias em Grijó e era visitado pelo Senhor Cónego, ambos conversavam e este se interessava, primeiro, por saber dos seus trabalhos literários e, só depois, divagava na conversa, falando de um modo bondoso, sereno e fidalgo. Pires Cabral não diz bem só isso: diz no seu modo bondoso, sereno, fidalgo, como se fosse uma característica rara e quase exclusiva do seu interlocutor. E acrescenta: “quando saía, tinha deixado comigo um pouco mais de sabedoria, um pouco mais de bondade”. É uma forma eloquente de resumir todo um homem. E o escritor ainda me veio a confidenciar que a bonomia do senhor Cónego lhe fora inspiradora.

Foi um dos homens que mais sabedoria e bondade manifestaram na vida, entre aqueles que nasceram em Trás-os-Montes. Um homem que não se deixava ficar por compreender “os mínimos segredos da sabedoria popular – mas de amar”.

António Henrique de Figueiredo Sarmento nasceu no Vilar do Monte em 11 de Outubro de 1902. Frequentou a escola primária em Castelãos e no Vilar do Monte, e fez exame na escola da Praça das Eiras, em Macedo. Em Bragança, estudou no liceu até ao 5º ano, concluído o qual declarou em casa que iria deixar de estudar.

Tanto os pais como os avós maternos tentaram dissuadi-lo da desistência. Não o conseguindo por palavras, usaram de uma pedagogia experimentada por outros. Durante um ano foi encarregado de executar tarefas agrícolas na casa de lavoura da família tendo, no fim desse período, retomado os estudos por vontade própria. Terminado o liceu, foi estudar direito para Lisboa.

Conheceu nesse tempo uma série de pessoas que havia de acompanhar pelo resto da vida: João Ameal, Manuel Aguiar, Pires Avelanoso, Marcelo Caetano. Contudo, não se integrou perfeitamente no ambiente da faculdade e mudou-se para Coimbra.

Nesta cidade encontrou Manuel Gonçalves Cerejeira, então professor universitário, que o impressionou pela sua inteligência e capacidade de ver mais além. Passou a fazer parte do seu círculo de alunos e a participar em encontros. Veio a descobrir e a sentir-se bem com o ambiente e as novas ideias do CADC – Centro Académico da Democracia Cristã, uma associação de estudantes que, sob inspiração católica, personificava a ordem e era a resposta aos problemas e desafios que o século XX trazia consigo. Foi o seu refúgio estudantil num tempo em que a espuma da maré trazia os abundantes escolhos com que a primeira república deixava o país: à beira do caos, da ingovernabilidade, da cultura do anticlericalismo. Se a vida do dia-a-dia o obrigava ao contacto com a cultura vigente, as ideias do CADC punham-no mergulhado na onda da doutrina social da Igreja, na moral cristã e no pensamento político católico.

Concluiu o curso de direito em Coimbra e iniciou uma carreira de magistratura, despachado como delegado para Miranda do Douro e, depois, para Mogadouro.

É neste momento que se dá uma viragem decisiva para o seu futuro. A sua mãe morrera entretanto, amortalhada com o hábito da Ordem Terceira, e o ambiente vivido nessa época por alguém que era uma pessoa informada da sua circunstância e do mundo em geral, vieram reacender em si um fortíssimo desejo de ir muito para além da sua vida de magistrado. A própria vida familiar lhe impôs um constrangimento que o obrigaria a uma intensa introspecção.

De facto, a primeira vez que se sentira tocado pelo sobrenatural fora ainda em Coimbra, aquando de um retiro espiritual de estudantes católicos ligados ao CADC, no Luso. Agora, anos trinta, era com outra convicção, mais madura, sobretudo acesa pela desilusão com a justiça humana, que encontrava algumas respostas na religião que a vida jurídica se lhe recusava a dar.

O sentido de justiça/injustiça das decisões e dos actos foi algo que o preocupou toda a vida. Então, talvez que o seu impulso fosse de fuga, de algum modo. Escreveu a Marcelo Caetano dando-lhe conta da sua decisão de ir para Singeverga. O imponderável desequilíbrio da justiça humana tornara-se-lhe insustentável a ponto de sentir, por ela, quase uma repulsa. Poderia com esta linha de pensamento cair num pessimismo estéril mas, em vez disso, procurava uma outra via, um desiderato. Marcelo Caetano percebeu perfeitamente o alcance da decisão do amigo. Pediu-lhe que fosse a Lisboa antes de ir para o convento, despedir-se dos companheiros de estudo. Ele foi, sem estar à espera que os amigos lhe tinham previsto outro destino que não o do convento beneditino. Queriam que ele ficasse em Lisboa. Ficou. Assinou, com isso, o resto da sua vida.

Ingressou no Seminário dos Olivais onde foi ordenado sacerdote pelo Cardeal Cerejeira em 19 de Dezembro de 1942. A partir daí, havia de marcar gerações de sacerdotes como guia espiritual. As suas palavras eram especiais, sempre de uma força enorme na simplicidade e na delicadeza, tal como era a sua companhia, o saber estar presente tanto na vida de pessoas dos mais elevados estratos sociais como na de prostitutas ou de quaisquer proscritos pela vida, de quaisquer uns que se lhe dirigissem. Ainda há bem pouco tempo, numa Assembleia Plenária do Clero do Patriarcado de Lisboa, D. Manuel Clemente o indicou como modelo: “o Cónego Figueiredo Sarmento, com a sua profundidade espiritual e o seu sentido de humor foi o grande orientador de muitos sacerdotes”.

O seu elevado sentido de justiça, sensível à posição dos que ele entendia como injustiçados, actuou como uma mola a fazê-lo escrever palavras de solidariedade ao Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, que, após a tomada de posse nesse cargo, se vira impossibilitado de regressar do estrangeiro à sua diocese por causa de Salazar ter discordado do conteúdo das suas Cartas Pastorais. Sem se preocupar, ao de leve que fosse, com as consequências que sobre si tal acto poderia verter – e que terão obstado a que pudesse posteriormente ter sido designado Bispo – escreveu: “Não estou ainda refeito da dolorosa surpresa que me causou a notícia ontem publicada nos jornais”. [fora a de que o Porto passara a ter, em vez do Bispo, um Administrador Apostólico] “Venho apresentar a V.Exª.Rev.ma os protestos da minha profunda veneração e dizer do meu desejo, que é também convicção, de que assim como V.Exª.Rev.ma nos encantou e instruiu com o brilho de inteligência culta, assim nos há-de edificar com o fulgor da Fé, da Caridade e da Fortaleza sobrenatural. Peço muito, e pena tenho de não ter méritos que valorizem os meus pobres pedidos, que o divino Espírito Santo una profunda e indissoluvelmente V.Exª.Rev.ma a Nosso Senhor Jesus Cristo e o encha dos seus dons. Esperando melhores dias, beija o sagrado anel de V.Exª.Rev.ma” [10.10.1959] .

Anualmente, nalguns dias de férias no Vilar do Monte fazia excursões de investigação pelas aldeias, silhueta inconfundível de negro e branco, em busca do património tão desconhecido dos nossos templos, num trabalho de inventariação fotográfica, pioneiro no género, com a ajuda do seu sobrinho-neto Alexandre de Carvalho Neto que conduzia e disparava a objectiva. Percorreu o distrito de Bragança como, provavelmente, nenhum outro antes dele. Escreveu textos sobre este tema que ainda hoje são lapidares. E apesar de tão grande esforço, que acompanhava com vasta erudição e trabalho de casa , mantinha uma postura de grande humildade ao divulgar a outros estes seus conhecimentos a que acrescentava, num acentuado cariz pedagógico, a preocupação prática de salvaguarda do património: “Ponhamos termo às considerações de um analfabeto mas não sem apontar, agora já com mais segurança, alguns dos inimigos da arte. O primeiro é a ignorância. (…) O segundo é o apetite do ‘novo’ e o fastio do ‘velho’ (…).” O terceiro é o de que “a mania do ‘novo’ leva às restaurações que em regra desvalorizam quando não inutilizam uma obra de Arte.(…)São incalculáveis os estragos das purpurinas e nova ‘encarnação’ de imagens. O quarto são as ornamentações das Zeladoras.(…) O quinto, a avidez do dinheiro”.

Como me lembro bem de com ele conviver no arquivo do então Registo Civil de Macedo de Cavaleiros, lendo página a página os velhos livros de assentos e comentando os detalhes mais pitorescos de alguns. Por exemplo o do turco Alvenvisar, capitão de mar e guerra de três naus, derrotado na Biscaia e que fugira até aqui onde se fez baptizar em 1716 com o nome de João Baptista, motivo para um dos seus artigos na revista Brigantia . Deixou-nos, aliás, uma série de artigos na revista Brigantia ainda de um outro âmbito, compilados posteriormente num livro intitulado Ambiência do Ano, que são um fresco vivo da vida de lavoura que ele conhecia e, como diz Pires Cabral, era capaz de amar.

É recordado amorosamente pelas pessoas do Vilar do Monte, de Grijó, de Castelãos, de tantos sítios.

Morreu no dia 11 de Abril de 1991, sendo então Decano do Clero do Patriarcado e Arcipreste Jubilado do Cabido da Sé Patriarcal. Está a decorrer um processo de beatificação deste mais do que ilustre macedense, trasmontano e português: um homem tão especial e tão santo.





1)In Nota Introdutória de A.M.Pires Cabral, Ambiência do Ano, Cónego António Figueiredo, Edição da Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros.


2)In Manuel de Pinho Ferreira, A Igreja e o Estado Novo na Obra de D.António Ferreira Gomes, Fundação Spes, UCP-Porto, página 68, nota.

3)A biblioteca constituída pelo Senhor Cónego Figueiredo era vastíssima e eclética, tendo sido parcialmente doada ao Convento de Balsamão. A sua cultura era vastíssima, para lá da componente religiosa.

4)Extraído e resumido de um artigo notável de oito colunas: Breves apontamentos sobre algumas manifestações de Arte Sacra no concelho de Macedo de Cavaleiros, in Mensageiro de Bragança, 22 de Agosto de 1964, ano XXV, nº. 1030.

5)Edição do Arquivo Distrital de Bragança.

6)Edição da Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

PERSPECTIVA TURÍSTICA DA CAÇA

Perspectiva turística da caça


Seminário TURISMO: A OPORTUNIDADE EM TRÁS-OS-MONTES

XV FEIRA DE CAÇA E TURISMO

MACEDO DE CAVALEIROS

28 de Janeiro de 2011



Manuel Cardoso

A caça e o turismo, em Trás-os-Montes, andaram ligados no passado e estarão ligados no futuro. Mais do que ser a caça uma forma de turismo, é o turismo que tem na caça um dos seus produtos principais. Saber encarar, estudar e desenvolver esta forma de turismo, é importante para que este recurso continue a ser – e o seja cada vez mais – uma fonte de rendimento e de criação de riqueza. Mas para isso há que mudar alguns paradigmas…

1. Já lá vai o tempo em que se ouvia dizer aos comerciantes de Macedo, voz de satisfação e mãos esfregadas de nervoso contentamento, “vêm aí os caçadores!”. Os caçadores vinham da cidade: do Porto, de Guimarães, de Braga, tendo como destino Trás-os-Montes e, especialmente, Macedo de Cavaleiros. Alugavam quartos na Estalagem, em Pensões e em casas de amigos e compadres. A vinda dos caçadores significava dinheiro, que se veria trocado pelas dormidas, pelas refeições e tainadas, pelos aprestos de caça. Só casas a vender cartuchos legalmente havia, nos anos cinquenta e sessenta, oito. E haveria que gratificar, nas aldeias, o conhecimento dos poios da bicharada, a cedência dos cães, o serviço dos batedores e estafetas, até o trabalho das mulheres que tratavam da indispensável e genuína retaguarda gastronómica. Os caçadores apareciam primeiro para as rolas, mas eram raros, Verão ainda. Depois faziam-se mais numerosos para a perdiz e para os coelhos e lebres, orgulhosos cintos de fartos números em que não era raro aparecer uma raposa. E, Inverno entrado, havia os tordos, abibes e aves frias, nuns anos mais permitidos e noutros menos, caça de espera com rotinas marcadas, campeonatos de número, por olivais reconhecidos de ano para ano. “Vêm aí os caçadores!” era uma frase que marcava uma época, um sintoma da vida social que, economicamente, tinha expressão. Não se lhe chamava turismo mas era-o na sua essência e tomáramos nós que ainda hoje tivesse o significado que tinha. Centenas de noites vendidas em época baixa, elevadas taxas de ocupação num período que hoje é difícil de conseguir.
Edroso, Igreja Matriz, cena de caça ao javali, sécs. XIII-
XIV

2. Não era por acaso que os caçadores demandavam Macedo. A fama antiga de ser fértil em caça reconhece-se nos documentos que estão aí, pelo menos desde a Idade Média, de que as referências nos forais não são raras nem são raros os testemunhos. Por isso há uma caçada ao javali gravada na pedra em Edroso, com mais de seiscentos anos, e há os relatos deixados pelo século XVIII, que nos descrevem uma região, a nossa, abundante de caça, abundante de javalis e de corços, já nesse tempo. Multiplicam-se por aí, na nossa toponímia, as alusões aos cervos. Há livros que nos falam do Monte de Morais como “o mar da caça” e a Serra de Bornes, num tempo em que era cultivada de alto a baixo, foi alvo de várias tentativas para se transformar, na perspectiva desses tempos, em couto venatório. Numa fase de transição, a da transição da caça como forma de abastecimento de proteínas, de sustento de famílias, para a fase mais lúdica, mais desportiva, como então se dizia.

3. E não havendo cartazes, nem jornais que o propalassem, nem notícias de rádio e televisão, como surgiu esse interesse dos homens do litoral por este destino de caça? Quem nos revelou?

Caçadores pioneiros, a que não esteve estranho o facto de para aqui vir, combóio acima, durante anos seguidos, um caçador em particular, seguido do seu séquito, e que aliou à sua paixão pelos nossos montes e vales, o lado utilitário do negócio. Foi ele Manuel Pinto de Azevedo. Começou por vir até cá a convite e hospedado em casa de amigos, os Falcões, mas rapidamente toda a sua entourage ocupava o hotel Saldanha e as outras pensões que havia na vila. Do gosto de caçar pelos planaltos da serra de Ala e nas encostas para os Cortiços lhe veio a ideia de um dia comprar um casal de terra. Daí nasceu, há quase um século, a sua raiz em Vale Pradinhos. Progredindo no mundo dos negócios e relacionando-se com gente cada vez mais elevada no ranking dos empresários do Porto, nacionais e estrangeiros, que desafiava para este seu recanto de Portugal, nasceu a necessidade de ter um sítio onde instalar, com as comodidades que o século XX vinha proporcionando, todos esses seus amigos, de cada vez mais requintada exigência. Olho de caçador, de negociante de grosso trato e industrial, carteira de investimentos com capital bastante para necessidades e para caprichos, manda fazer uma Estalagem. Moderna, confortável, de um luxo fino. E com um grande nome: Estalagem do Caçador. Pensada no pós-guerra, construiu-se e inaugurou-se no início dos anos cinquenta. E teve um condão: identificou-se com Macedo. Em Portugal inteiro e até no estrangeiro, Macedo era a Estalagem. Toda a gente reconhecia este ponto no mapa, um importante cruzamento de estradas, como o sítio onde havia a Estalagem do Caçador. E fez mais pelo turismo pelo simples facto de ter existido aqui do que qualquer campanha para captação de visitantes. Quem quer que viesse a Trás-os-Montes, em negócio, em política, em trabalho, em veraneio, ficava ou passava pela Estalagem do Caçador. Que teve durante anos seguidos, nesses idos de cinquenta, sessenta e ainda setenta, períodos de contínua lotação esgotada. Com clientes habituais, que reservavam de ano a ano o seu quarto para a época venatória. E podiam trazer cão: a estalagem também tinha acomodações para o fiel amigo do caçador. Na esteira da fama da estalagem foram abrindo outras casas. Ainda bem. A caça dava para tudo.

4. O que fez esmorecer esse momento tão bom em que a caça era turismo? A diminuição do poder de compra? A alteração de hábitos sociais? As modificações e melhorias nas vias de comunicação? A democratização deste “desporto”?

Cremos que de tudo um pouco. Mas não há dúvida que as alterações das vias de comunicação, que vieram permitir a ida-e-volta sem esforço a partir do litoral, foi determinante para mudar a maneira de caçar e, sobretudo, o tempo de caçar. Deixou de ser preciso gastar cinco horas, cães a reboque, para vir e cinco horas para ir. Pela metade do tempo vem-se e regressa-se. E este facto foi determinante para transformar em meros visitantes, de um dia escasso, aqueles que até então vinham de véspera ou de antevéspera e eram autênticos turistas de pernoita certa. Com isso perdeu-se o tempo para mais. E a caça, hoje, na maioria dos casos, não é mais do que uma fuga de um dia à rotina, alterando-se definitivamente toda a atmosfera que envolvia a actividade e o modo de gastar o tempo que se lhe dedicava. Mas uma coisa é certa. Ainda há interesse pela caça, ainda somos um destino de caça e ainda não morreu a chama acesa da lareira a que nos aquecemos depois de um dia de caça. Então…

5. …então há que repensar a perspectiva da caça e em vez de equacionarmos o turismo por termos cá caçadores, equacionemos a caça para termos por cá turistas. O produto “caça” é um produto turístico muito mais importante do que o simples acto de caçar um coelho, uma perdiz ou um javali. O pressuposto de que “caça” implica uma arma, um homem e um animal para ser abatido, é apenas um detalhe do nosso produto. “Caça”, em si, é o animal e a sua paisagem. Por aí andam por esses montes e pelas nossas serras. À espera de ser observados, estudados, caçados e comidos. A caça em si é uma experiência que deve ser proporcionada ao turista. Com a presença e a emoção de caçar, de ir pelo campo, de ouvir os cães e sentir o frio e o cheiro. Mas que pode e deve ser complementada com cultura, com arte, com gastronomia. Com ciência! Não é por acaso que o canal Discovery ou o National Geographic Magazine têm elevadas audiências nos programas sobre vida natural: colocam o homem face a face com o jogo mais antigo da humanidade, o da observação dos animais. Algo que um caçador faz, e muito bem. E que tanto pode fazer com uma arma como com uma máquina de filmar ou fotográfica, como com um binóculo ou telescópio. Neste ponto de vista todos somos um caçador potencial. Está-nos nos genes. Saberemos indicar aos nossos potenciais caçadores-turistas onde podem ir caçar coelhos? E perdizes? Sabemos onde está a nossa caça? Como se multiplica? Organizamos workshops sobre a perdiz gastronómica? Organizamos workshops sobre os modos de caçar? Temos algo para dizer ou para mostrar sobre caça a quem nos escolhe como destino turístico? Estamos simplesmente à espera que venham os caçadores e que encontrem caça por aí?... Hm…

Veado em Latães, na Serra de Ala, 12 de Outubro de 2009
6. Para conseguirmos que, no futuro, continuemos a desenvolver a caça na perspectiva do turismo, não basta que haja o monte, a perdiz e a espingarda. Tem de haver algo mais, muito mais. O caçador tem de se sentir acolhido como um turista e não apenas como um cliente de uma associativa. Tem de se sentir bem e tem de sentir que os que traz consigo se estão a sentir bem. Tem de sentir que quando vem à pressa para regressar no mesmo dia, perde algo mais, muito mais, se não ficar cá a dormir. Tal como tem de sentir que o facto de ter vindo sozinho é um desperdício por não ter trazido a mulher e os filhos para que, entretanto, se dediquem a fazer algo que seria impensável e impossível se tivessem ficado na cidade. Um dia de caça entre nós tem de ser uma experiência inesquecível mas repetível, como o era para os caçadores que cá vinham há décadas atrás e passavam a palavra dos dias inesquecíveis nos nossos campos, na nossa estalagem, nas nossas lareiras. Temos de ser capazes de demonstrar que vale a pena não só vir caçar como vale a pena vir passar o dia entre nós. E a noite. E, mesmo que não se cace nada, fazer com que no espírito do nosso turista fique a sensação grata de um dia preenchido e não o desagradável vazio de um dia desperdiçado sem nenhuma perdiz ou coelho para por à cinta.

7. Já lá vai o tempo em que se ouvia dizer aos comerciantes de Macedo, voz de satisfação e mãos esfregadas de nervoso contentamento, “vêm aí os caçadores!”. Mas temos de fazer com que volte um tempo em que os caçadores que cá vêm, com voz de satisfação e mãos esfregadas de nervoso contentamento, digam “vem aí o nosso fim-de-semana em Macedo de Cavaleiros”. No dia em que isto acontecer, tal significa que a caça deixou de ser uma forma de turismo e o caçador passou a ser um verdadeiro turista. Não se pense que isto é um mero jogo de palavras. Nada disso. Isto é a demonstração de que há uma forma de ver a caça e o turismo como actividades com futuro na nossa terra. Tudo evolui. E o que não evolui, definha e morre. Ora, nós saberemos evoluir.

Albufeira do Azibo, Dezembro de 2007. Foto de Nuno Oliveira Martins

Vivemos um momento difícil, numa conjuntura difícil em que o país foi colocado. Mas os momentos difíceis são sempre momentos de oportunidade. Na perspectiva da caça, o turismo terá um futuro cada vez mais difícil. Mas na perspectiva do turismo, a caça terá um futuro promissor. É esta a maneira correcta de colocar hoje este nosso assunto. Somos um destino turístico de Verão que ultrapassou os 100 000 visitantes. Podemos ser um destino turístico de todo o ano desde que passemos a tratar a Caça na perspectiva do Turismo.