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terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Exposição de Pintura

Mais uma vez no Hospital de Macedo de Cavaleiros
de 15 de Dezembro de 2008 a 3 de Janeiro de 2009



Summertime http://adriveinmycountry.blogspot.com/2008/08/summertime.html é muito mais difícil de entender no Inverno. Mas é quando sabe melhor. Olhar para trás, para dezenas de anos atrás e sentir o que é ter uma folha em branco no dia em que se começa a escrever.


“One of these mornings

You're going to rise up singing

Then you'll spread your wings

And you'll take to the sky”


Com Gershwin é muito mais fácil de entender, mesmo no Inverno. E é quando sabe melhor. Voltar atrás, ouvir a faixa desde o princípio e sentir o prazer de recomeçar, não importa a idade, recomeçar com o sabor e o saber de já o ter feito um dia.
As quatro telas Summertime aqui expostas são quatro reinícios de um mesmo tema. Que não pararam ainda.
O Vislumbre de Aleph é ainda uma primeira versão e só uma primeira versão do Aleph. O de Borges (não ponho a imagem em post).

sábado, 22 de novembro de 2008

UM TIRO NA BRUMA - À conversa com o autor

Com este título foi publicada há um ano, no número de Outubro-Dezembro de 2007 do boletim do Centro Hospitalar do Nordeste (DL 249821/06), uma entrevista que me foi feita por Carla Ferreira, co-responsável editorial desta publicação, que aqui se reproduz.

Apesar do livro do Dr. Manuel Cardoso, “Um tiro na bruma”, ter sido só lançado em Março deste ano [2007], já vai na segunda edição. Motivo pelo qual consideramos interessante abordar o autor e questioná-lo sobre este seu primeiro “ grande romance histórico-policial que retrata a sociedade portuguesa no início do século XX”.

Carla: Boa tarde Dr. Manuel Cardoso, médico veterinário e romancista trasmontano - e não me refiro às origens, mas à escrita, transmontana pura…define-a assim?

Manuel Cardoso: Por acaso não defino. Eu não partilho essa ideia de que haja entre nós, trasmontanos, uma escrita própria ou uma mentalidade aparte. Talvez uma perspectiva original que nos leva a escrever de uma determinada maneira porque vemos as coisas com outra luz, esta luz fantástica do interior de Portugal, mas não uma escrita própria. Isso seria, até, redutor. Repare no caso de Torga: defini-lo como “escritor trasmontano” é uma forma não inocente de muitos o reduzirem, o apoucarem, o tentarem colocá-lo só neste cenário que os citadinos imaginam e descrevem como “detrás do sol-posto”. Tenho imenso orgulho em ser trasmontano e em ser escritor. Mas como escritor sou de Portugal e de todo o mundo e não apenas de Trás-os-Montes. Como alguém disse, e muito bem, “a minha pátria é a língua portuguesa”, e eu subscrevo.
C: Após o lançamento do livro falou-se muito que este se destinava essencialmente às gentes de Macedo de Cavaleiros que se identificariam com os locais, as personagens e a sua história. No entanto, pelo sucesso alcançado, verificamos que despertou interesse em todo o país. Um retrato trasmontano abarcando temas da sociedade portuguesa como a implantação da República, a guerra e a pneumónica…

MC: Tem razão em dizer que é um retrato trasmontano. Mas é precisamente um retrato trasmontano que situa e enquadra todo o cenário em Portugal e no mundo. Aqui é Portugal e é o resto do mundo simultaneamente. Nós não somos os coitadinhos que estamos aqui atrás das fragas: somos pessoas que fazemos parte da história de Portugal e da história do mundo. Como tal, o que se passa no país reflecte-se aqui e o que se passa aqui, até um pouco à luz das modernas teorias do caos, reflecte-se no todo e no resto do país. De uma forma aparentemente imperceptível mas reflecte-se. O retrato que o livro dá da época, aliás, a sucessão de retratos, é um conjunto de imagens que foram comuns a todo o território e a muitas, senão todas, as famílias de Portugal: as dificuldades sentidas com a implantação da República e com a I Grande Guerra, a sensação de insegurança e de “fins dos tempos” que então se experimentou, o medo da pneumónica, o luto da pneumónica, a fractura política que deixou sequelas, tudo isso são assuntos que, como uma teia, foram comuns ao todo nacional. Curiosamente, no meio de todas essas convulsões e desvarios houve uma instituição que perdurou e que permitiu a sobrevivência: a família. A Igreja esteve em apuros e foi perseguida, a sociedade esteve a ponto de se desarticular, o país esteve à beira de uma guerra civil medonha, a liberdade que a maçonaria e a carbonária estrangularam, a caricatura de democracia que o regime representou nessa I República, tudo isso esteve a ponto de colocar todo o país na bancarrota e de submergir a população numa crise que só teve paralelo nalguns períodos da nossa primeira dinastia, em plena Idade Média. O que nos safou? A família. Por isso o livro é um retrato de família, um retrato de família trasmontana.
C: Segundo os macedenses mais velhos, existe um fio muito fino entre a ficção e a realidade, o que me leva a dizer que houve muita investigação? Quer-nos dizer quanto tempo levou a investigar para escrever este livro e onde o fez?

MC: Desde há muitos anos que investigo coisas de índole variada mas quer investigações de família quer sobre a história da nossa região sempre me interessaram muitíssimo. Fui coleccionando dados ao longo de muitos anos e tenho-os guardado à espera de serem úteis. Um dia houve o clic para escrever este romance. Fiz umas pesquisas e reparei que não havia um livro recente sobre este período da nossa história e sobre este período em Trás-os-Montes, que foi muito movimentado, como se pode ver. Alinhavei uma estrutura geral e depois estive a investigar minuciosamente todos os pequenos episódios, todas as mortes – tenho anotado todos os mortos da pneumónica no nosso concelho com nomes, datas, locais de enterro e tudo! Consegui reconstituir famílias e criar para mim próprio um cenário virtual com personagens que foram reais, que existiram e que viveram mesmo nas circunstâncias em que conto no livro. Houve momentos em que estava a ler e a estudar os livros no Registo Civil de Macedo e no Arquivo Distrital de Bragança e que me parecia, quando saía á rua, que tinha estado a navegar no tempo e a conviver com pessoas que já morreram! Para mim estavam vivas ainda! Só iam morrendo conforme eu ia escrevendo as páginas do livro, o que me levou, na recta final de escrita, um pouco mais de três meses. Em investigação directa, feita já no decorrer da redacção, e na redacção propriamente dita gastei pelo menos um ano.
C: O Dr. Amadeu, personagem principal, médico, sem recursos, mas com uma grande visão e generosidade, foi o “herói” que esta terra precisava na época. Em que ponto se corta aqui o fio entre ficção e realidade?

MC: O doutor Amadeu não foi um herói, foi um homem com defeitos e qualidades. Bem, os heróis também têm defeitos e qualidades… mas quero dizer que o que ele fez – e não foi o único médico a viver em Macedo nesse tempo, já uma vez, a propósito da história do hospital, tivemos a oportunidade de escrever sobre isso -, o que foi fazendo ao longo de toda a história, foi o que um humanista faria. Tinha defeitos que o celebrizaram negativamente na nossa família e na sociedade da época, digo e explico isso no prefácio, mas tinha qualidades e foi num balanço entre uns e outras que eu coloquei a medida do que haveria de escrever sobre ele. Penso que apresentei dele um retrato aproximado e real, embora haja algumas facetas da sua personalidade que os anos haveriam de realçar em detrimento de outras, creio que é assim com toda a gente. Como a memória que ficou dele foi, sobretudo, a de quando ele era mais velho, daí um certo descolamento que possa ser notado. Mas do que li do que ele deixou escrito, do que me chegou de testemunhos e do que foi a sua infância (era filho de um padre e viveu com a mãe e com o pai…), creio que compus um personagem à altura – embora ele fosse baixo… Contudo, há ainda uma coisa que gostaria de dizer: o doutor Amadeu não é o personagem principal do livro… é um protagonista, um dos protagonistas. Personagem principal é algo mais subjacente, menos aparente mas que está lá sempre… não vou dizer mas houve um dos leitores que o notou e que lhe fez referência expressa!!!!
C: A Micas…a minha personagem favorita, uma mulher com muita classe, que ultrapassa as desilusões da vida com o brilho natural feminino retrata as mulheres da época? Submissas ou lutadoras?
MC: Curiosamente, nessa época e ainda muito hoje em dia, qual é a mulher trasmontana que não é lutadora por ser submissa e que não é submissa por ser lutadora? A verdadeira força de uma família, o verdadeiro esteio de uma casa trasmontana está em quem? No homem, que passa a vida fora de casa, bebe, joga, arrasta a asa a outras mulheres ou na mulher que é quem tem os filhos, quem os trata, quem os chora e os enterra? Quem é que cozinha, que colhe, que cava a horta, que varre, que lava, que reza, que canta e encanta? Trás-os-Montes foi talhado pelas mulheres, foi feito pelas mulheres. Talvez por isso o ondulado das nossas serras pareça um grupo de mulheres deitadas, num descanso de mitos ou num encanto de fadas. A Micas foi o esteio da casa. Tinha sido educada para isso, até, talvez, para muito mais… mas tinha personalidade e carácter. Força. Capaz de estar para lá dos acontecimentos e ver para lá das circunstâncias. Era, na vida real, uma senhora muito culta. Divertida e séria, está a ver? Divertida, a ponto de aconselhar as netas a ter muitos namorados sem namorarem com nenhum, e a entusiasmar-se com jogos de hóquei. Mas séria, soube fazer opções certas no meio de tormentas, sabendo separar o essencial do acessório. Autenticidade. Era uma senhora com autenticidade que é uma característica hoje em dia muito pouco cultivada, nesta época em que a superficialidade e o usar-e-deitar-fora são dominantes da falsa cultura em que navegamos… A Micas é alguém que merece ainda mais do que estar apenas neste livro…
C: Sendo o livro também policial, só se resolve o mistério mesmo na última página. Deliberado, para aumentar o interesse?

MC: Deliberado, para surpreender o leitor. Foi uma espécie de brincadeira minha, se me permite. Gosto dos desfechos inesperados. Servem para que se reflicta mais sobre o que se acabou de ler. Para que se pense,”afinal isto não era assim e aquilo tinha de ser assado…”. Servem para contrariar a não-cultura de hoje em dia, se quiser, já que é uma maneira de dar a ler uma coisa que, apesar de estar no final, se reconhece ainda não estar pronta ou compreendida na sua totalidade…

C: E agora? Projectos para o futuro? Para quando um novo livro? Histórico, policial, romance?

MC: Eu estou sempre a escrever, nem que sejam pequenas histórias e artigos! Mas quanto a romances… estou, de facto, a escrever. Ainda não tem título definitivo. Mas posso-lhe dizer que tem a Micas! E estou também a escrever outra coisa, totalmente diferente, que tem a ver com um escritor argentino que me é muito caro por ser um génio a quem não foi dado o prémio Nobel (escrevia bem e, normalmente, os que melhor escrevem não recebem este prémio!) e por ter sido aquele que, juntamente com Fernando Pessoa, mais janelas me abriu de prazer no permanente encanto que é o de escrever: Jorge Luís Borges! Se o que estou a escrever é romance, história ou policial ou ficção pura, isso deixo aos críticos classificar porque de crítica literária não percebo nada ou quase nada. O que eu gosto é de ler e escrever, literariamente falando. E de viver. Dando, para isso, de vez em quando, uns tiros na bruma dos nossos dias e bebendo uns copos de vinho, que é uma óptima tinta de impressão!

C: Obrigado por esta entrevista!
MC: Obrigado eu, por me ter dado tanta importância!...

terça-feira, 15 de julho de 2008

primeira exposição individual






A partir de 15 de Julho de 2008 e até ao último dia do mês, uma pequena exposição de telas a óleo estará patente no Hospital de Macedo de Cavaleiros. Para os que não possam ir vê-la in loco, aqui se deixam algumas anotações. São oito trabalhos em duas séries de quatro.



The Doctor, emoções I, II, III, IIII





Sir Henry Tate encomendou a Luke Fildes, em 1887, um quadro de grande realismo e intensidade emocional, grande também nas medidas (166,4 cm * 241,9 cm) e no preço (3000£). A obra ficou terminada em 1891, foi apresentada por Sir Henry Tate em 1894 e, desde então, tem sido reproduzida milhões de vezes em litografias, gravuras, selos, postais, posters, etc.
Apesar de omnipresente e vulgarizada nos estabelecimentos médicos um pouco por toda a Europa e por todo o Mundo, nem por isso perdeu a sua força. É que cada pincelada estava embebida, mais do que em óleo e pigmentos, na saudade de um filho do pintor, morto de doença uma década antes. Na tela está também, com um vigor impressionante, um preocupado reconhecimento à devoção médica do Doutor Gustav Murray, que o assistiu até à morte.
Os quatro estudos agora presentes e inspirados nesta obra de Luke Fildes, The Doctor ©Tate Gallery, não são mais do que uma expressão de emoções e propostas de perguntas. Sendo a cena original o resultado de um memory sketch de 1877, presenciado e vivido pelo pintor, qual o papel do médico nesse momento e, depois, na tela? A curar a doença, aliviar a dor, a confortar o doente e os pais? Que mais? E será que hoje…


Depois de concluir o quadro e de receber o pagamento, Luke Fildes terá comentado que teria ganho mais se entretanto tivesse estado a pintar retratos de gente rica. Ainda bem que não esteve.




Neuma est Veritas



Esta série de quadros, genericamente intitulada Neuma est Veritas (se bem que já não sejam neumas primitivos a neles figurarem mas sim a notação perene da escrita de cantochão), é um conjunto de instrumentos como se as próprias telas emitissem sons. E não emitem? Não os ouvimos mesmo tapando os ouvidos? Atravessar o tempo e o espaço. Deixar de ter os pés no chão. Perceber a verdade. Ultrapassar a mortalidade. Música!