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terça-feira, 30 de setembro de 2008

CRISIS ? WHAT CRISIS ? THIS ONE ?

A crise do materialismo triunfante


A actual crise financeira que assola o mundo não é apenas mais uma crise do capitalismo financeiro. É a crise do capitalismo financeiro. A que vai fazer com que, por muitos e bons anos, nada vá ficar como dantes.
Surpreendidos? Nem por isso, ou não tivéssemos tido durante um longo período o Papa João Paulo II, que nos alertou para a inevitabilidade deste momento e para a necessidade de evitar os erros que a ele nos conduziram e também Bento XVI, por diversas vezes.
De facto, os anos de progresso e de riqueza que impregnaram o modo de vida dos países desenvolvidos tornaram cada cidadão um agente dum materialismo triunfante que reduz o êxito e o sucesso à capacidade de cada um gerar lucro. Mesmo os fins científicos das descobertas e as suas aplicações técnicas, até as questões da ecologia e da conservação da natureza, desde há anos que vêm estabelecendo para si uma meta algo equívoca, escondida sob o suave rótulo de “sustentabilidade”: gerar lucro. Como se toda a política, toda a acção humana, tudo o que não gere um certo lucro, seja considerado insustentável pelo homem, relegado para segundo plano, recusado como desnecessário ou impossível.
Onde nos levou isto? A aqui e hoje: a uma crise da e na abundância, a uma crise que não vai deixar nada como dantes. E ainda bem.
Desde há gerações que o materialismo, seja o materialismo dialéctico seja qualquer outro, se tornou no pensamento dominante dos quadros dirigentes. Polvilhado de preocupações sociais, para embrulho (o Jacinto, o nosso da Cidade e as Serras já se dizia socialista, lembram-se?) dos quadros dirigentes em termos políticos, científicos, quaisquer outros. De tal modo que os programas de ensino, os programas de governo, os programas de gestão de empresas, de autarquias, de quase tudo, são programas feitos com essa informação materialista e com a medida da ambição de um dólar ou de um euro.
Mas acontece que o homem necessita de muito mais do que dólares e euros investidos em bens materiais. O homem necessita de respirar muito acima e de aspirar a muito para lá do que sejam as contas de dólares e euros. O homem necessita viver.
Esta crise, com lições a muitos níveis, deve merecer-nos mais do que uma reflexão. Mas uma é já evidente: a de que não basta, aos decisores, serem técnicos e saberem fazer contas. Têm de saber muito mais e de ser muito mais. A começar por saberem ser homens.
Que é que quero dizer com isto? Quero dizer que não basta aos decisores serem tecnocratas de curriculum brilhante, têm de ser também humanistas. Esta crise é o resultado de nas últimas décadas, pelo mundo fora, ter havido um forte investimento científico e técnico e muito pouco ter sido feito nas ciências sociais e humanas. Que relevo se tem dado ao discurso literário, histórico, filosófico, artístico? Que notoriedade e influência têm hoje em dia aqueles que ensinam ou reflectem sobre estes temas? Reconhece-lhes importância para dirigir?
Pois é: confiámo-nos aos gestores, aos economistas, aos engenheiros, aos matemáticos de contas absolutas. Trouxeram-nos até aqui: a este resultado, ao de uma crise absoluta.
Estamos e vamos continuar a viver um período historicamente difícil mas empolgante. Já estou preparado. Recomecei a ouvir os Supertramp!