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domingo, 20 de dezembro de 2015

OS TRASGOS DO SENHOR ENGENHEIRO


- E ainda há a questão dos trasgos, senhor engenheiro!
- Trasgos, que trasgos?!
- Então, dizem que ainda há trasgos a viver aí pró rio…
- Trasgos, que é isso, trasgos?!
- Ora, senhor engenheiro, são trasgos!
O homem olhava fixamente para o Rui, desarmado perante aquela dificuldade. Então o senhor engenheiro não haveria de saber o que eram trasgos?! Afinal, com um curso de universidade, a andar ali pela aldeia já há tantos anos e não sabia o que eram os trasgos?! Tirou o chapéu, semicerrou os olhos, ajeitou a melena que se lhe ensopava com o suor, sentiu uma breve aragem a soprar sobre a humidade e a arrefecer-lhe a testa. Agradável. Voltou a pô-lo e olhou para o rio, lá muito ao fundo, correndo miúdo entre os pedregulhos, como se não existisse.
Não se ouvia um ruído de água, só o vento restolhando nas giestas e silvas, numa ou noutra amendoeira de verde empoeirado que mal sobrevivia naqueles tons torrados de Agosto. O Rui pousou a mão numa rocha quente, de que se destacaram alguns pedaços secos de líquenes como se fossem as escamas de um peixe já morto. Apoiou-se nos dois cotovelos e ajeitou melhor a posição para voltar a fixar o binóculo sobre o leito, lá em baixo, onde a água aparecia como uma mancha rara, quase invisível, a adivinhar-se mais do que a ver-se, no meio do caos de penedos, areias e calhaus rolados, pontificada aqui e ali por renques de salgueiros e um ou outro amieiro mais alto. Lá estava a grande escarpa, massa desconforme de granito saliente da encosta, lisa como se fosse uma escultura, sem fendas nem sobressaltos. Seria o ponto ideal para ancorar o muro de betão da barragem. De um lado e de outro haveria que mandar fazer as sondagens, estudar tudo, mas era ali, no ponto mais estreito do rio que a água não rompera em milhões de anos, era ali que se devia fazer a represa. Um grande lago se estenderia para cá, água como nunca se vira por estas terras, nem nos anos lendários das cheias de 1909 ou de 62. Água com fartura que traria fartura. Daria electricidade, daria para regar hortas e campos, traria gente nova para tomar banho e andar de barco…
- Olhe, já viu quantos empregos se depois se fizer um hotel neste sítio?!
- Mas, ó senhor engenheiro, ao tempo que se fala nisso, vai ser ainda para nós, essa barragem?
- Vai ser, senhor Rodrigues, vai ser. Isto agora vai ser rápido. Um ano para estudos e projectos, mais um para os políticos se entenderem, para acertar tudo, depois o concurso. Daqui a dois anos e meio ou três estaremos com as obras a começar. Ainda não sabemos… mas que durem ano e meio… há-de ver: até o presidente da república virá aqui!
- E os trasgos, senhor engenheiro?
Dirigiram-se para o carro, que tinha ficado uns cem metros atrás, estacionado no fim do trilho de saibro, ao pé do cruzeiro. Nele estava a Ana a ler um livro e a ouvir a RFM, motor ligado para manter o ar condicionado. Ao vê-los voltar, abriu a porta e saiu, compondo o cabelo que trazia apanhado e dando um puxãozinho à bainha do minivestido justo. Sorriu para o Rui e disse ao velho Rodrigues:
- Nós já voltamos, Titó!
- Eu fico aqui, menina, a conversar comigo! - e entrou para o carro, sentando-se no banco de trás, ofegante como quem afunda no estofo um alívio de uma vida, e baixando o vidro para não se abafar com o ar condicionado.
- É um instante, senhor Rodrigues!
A Ana passou o braço à volta da cintura do Alberto e com um andar cuidadoso para que a areia não lhe entrasse nas sandálias de salto, foram até à borda do desfiladeiro, para junto das grades do mirante de onde ele estivera há pouco a perscrutar o rio, onde ela gostava de estar sem terceiros. Não fora ali um dos seus locus amoenus preferidos dos de todo o seu namoro?
- Que é que são trasgos, Ana?
- Trasgos?
- Sim, o Titó diz que os há pelo rio...
Ela esboçou um sorriso e piscou devagar os olhos como quem vê saudades.
- Trasgos! Coisas dos mais velhos, dizem que havia trasgos, assim uns seres mitológicos que nunca ninguém viu… eu nunca vi!
- Nunca me falaste disso!
- Ora, coisas para encantar meninos, histórias antigas. Diz-se que viviam nos açudes e nos velhos moinhos… que passavam a vida a pregar partidas aos moleiros ou a quem se aventurasse por ali!
- Um bicho?
- Não, não! (risos). Iguais às pessoas mas em ponto pequeno. Uma espécie de miúdos em tamanho mas já crescidos, vestidos quase de bobo, com berloques e guizos, barrete verde ou vermelho, conforme…
- Conforme o quê?
- Sei lá! Era o que diziam! Grandes orelhas, capa de zorro sobre os ombros… ora, patranhas! Quando era pequena bem os procurei, quando íamos ao rio! Ahah!
- Uma coisa como andar aos gambuzinos?
- Hmm… era diferente! Os gambuzinos é coisa para entreter quem não é de cá, pregar partidas a quem cá vem. Não, era diferente. Os trasgos eram levados mais a sério, dizia-se que tinham sido vistos pelos moleiros a atirar a farinha ao ar, que andavam sempre a emperrar a vida de certas pessoas, a espantar gados das curriças para fora, a fazer verter o vinho das pipas, a entornar as remeias de azeite, a por lagartos nas grelhas onde as pessoas assavam sardinhas!
- Eheh! Então ainda te fartaste de os procurar, nas idas ao rio…
- Ora, o tempo dava para tudo!
Dantes, ir ao rio era estafa que durava um dia. Saía-se logo de manhãzinha, a pé, as mulas carregadas com os cestos de verga, garrafões e mantas. Levavam um cantil de cabaça a tiracolo, chapéu de palha e pau para espantar cobras e lagartos. A excursão parecia uma colorida caravana de nómadas, fila indiana ao longo dos trilhos incríveis que descreviam ziguezagues pela encosta íngreme, sempre a descer por entre os blocos de granito e as amendoeiras de onde voavam pássaros e rolas. Uma vez lá em baixo, hora e meia depois de se ter deixado a aldeia, estendiam-se as mantas num troço de pasto ou num areal miúdo, à sombra dalgum freixo com folhas rendadas de cantáridas. “Não se mexe nesses bichos verdes!”. A água pasmava num fio subtil, bordas perfumadas de mentrastos. O pai armava uma cana de pesca, o Titó e as criadas iam varejar e apanhar amêndoas molares, ela e os irmãos atravessavam nas alpondras e inspeccionavam as rodas já desengonçadas e os alcatruzes enferrujados da velha azenha. “Não entrem para o moinho que o telhado está podre e pode cair!”. Mas eles entravam, pé-ante-pé, olhando brilhantes para aquele mundo bafiento e misterioso onde cresciam musgos e bolores verdes e onde se estendiam teias de aranha monumentais. “Cuidado que ainda lhes sai daí algum trasgo!”. Uma tábua a ranger assustava um melro que os assustava a eles. Correrias e gritos. Manhã quase passada, deitavam-se nas mantas olhando o céu límpido onde voavam grifos e águias, lá muito acima, em grandes círculos. Depois vinha o banho no açude grande, ao pé dos garrafões que estavam imersos e presos por um fio de nylon, água corrida pelos alfaiates, galhofa que baste até ofegarem, cabelos a pingar e a mãe a pôr-lhes as toalhas nas costas. Estendiam-se ao sol, só o tempo de fazer parar os arrepios. “Vá, toca a vestir!”. No meio de mais galhofa ainda, toalhas enroladas sobre si, tiravam os fatos de banho e aprontavam-se com calções e t-shirts. Entretanto as criadas tinham já estendido as toalhas aos quadrados e, de dentro dos cestos de verga, tinham tirado as panelas do arroz, os panados, as fatias de pão, os frangos assados, os bolos de bacalhau, as batatas fritas, os salpicões de azeite, melões e melancias, uma ementa imensa. O resultado era uma grande sesta, feita na maior das quietudes, só cortada de tempos a tempos pelo ruído da bóia e dos empates a fazer splash na água, do carreto a pô-los em posição, do bater do casco das mulas no chão e do chicotear das crinas da cauda a afastar as moscas, do volitar de uma vespa que os alertava de sentinela. As brincadeiras da tarde eram mais sossegadas, o sol e o calor faziam faltar a vontade, alguns livros que a mãe lhes trouxera eram bons de ler na sombra dos choupos, sentados em fragas. Eças e da Elaine Sanceau. As criadas e o Titó enchiam a terceira saca de amêndoas, atada e pronta a ser carregada nas mulas. A pouco e pouco a sombra do planalto vinha estender-se sobre a encosta de cá. Estava na hora de encetar o regresso. Iriam ser mais de duas horas, sempre a subir, arrastando-se trilhos acima, esforço imenso entrecortado por paragens para beber água, encorajado por um copo de vinho que todos bebiam, crianças incluídas, quando já estivessem a mais de meia ladeira. O jantar em casa, nessa noite, era da praxe ser entrado de canja com ovo. Sentiam-se os músculos das pernas com picadelas e uma enorme vontade de ter a maior noitada de sono de todas as férias. Eram assim as idas ao rio. Mais tarde, já a estudar na faculdade, a Ana voltara lá, de jeep, coisa de quarto de hora por um estradão aberto pelos da hidráulica, tirando fotos e recolhendo amostras para o seu relatório de estágio, nova dimensão que lhe fizera rebaptizar os alfaiates de Gerris remigis e os mentrastos de Ageratum. Mas muitas mais vezes tinham sido aquelas em que apenas observara o rio visto de cima, centenas de metros acima, empoleirada numa das pedras do mirante, primeiro umas simples rochas que sobressaíam sobre a escarpa do vale como uma pala, depois um local a que os do parque tinham vindo acrescentar uma balaustrada de ferro e fios de aço entre os blocos de granito, e em que tinham posto um letreiro que identificava o sítio e explicava a paisagem. Pretendia explicar a paisagem. Como se a beleza daquilo tudo - e aquilo tudo não era só o horizonte, o rio, o céu, era muito mais - não estivesse no facto de que o mais importante era o que naquela mesma paisagem ficava sem explicação. Pois não via ela, daquela sacada sobre o vale imenso, pedaços da sua vida? Tantos recantos da sua alma?
Ali estava agora, agarrada ao Alberto, o seu Alberto, sentindo o vento quente a subir do vale e a roçar-lhe a cara, vendo os grifos ao longe, talvez além um abutre-do-egipto, falando de trasgos que vinham até si trazidos da sua infância, inesperados. Ali estava agora, no seu miradouro. Tão seu. No íntimo sabia que fora ali, numa noite quente de Agosto de há anos, que engravidara do Alberto, logo no primeiro Verão que ele viera à aldeia para ela o apresentar aos pais, no ano do seu casamento.
- O Titó é que me perguntou pelos trasgos. Deve pensar que a barragem virá a alagar os sítios dos trasgos!
- Não inunda este sítio, pois não? - perguntou com alguma ansiedade.
- Claro que não! O nível máximo da água fica ali em baixo, mais ou menos onde está aquela casota além, ao lado daquela amendoeira maior…
O ar estava mesmo quente, uma bruma de calor empastelava pormenores à distância e a luz do sol a descer para o ocaso tornava baço o horizonte. Ervas secas e alguns cardos pareciam ir incendiar-se com a tonalidade a jorrar de poente. Ao Alberto pareceu-lhe ver qualquer coisa a correr e a meter-se entre as giestas, num patamar. Teria sido uma raposa? Um grifo passou vagaroso, surgido de repente sobre as suas cabeças, a planar para as fragas. Deram um beijo e dirigiram-se ao carro, de mão dada.
De longe ainda perceberam que o Titó dormia. Mas havia algo que não batia certo... o carro tinha os pneus em baixo! Ele deu a volta, incrédulo. Os quatro! Estavam todos completamente em baixo! De certeza que tinham passado por fosse o que fosse que os furara e esvaziara lentamente, talvez duma casa que estava em obras à beira do caminho, à saída da aldeia, quaisquer pregos deitados para o trilho… O Titó acordara entretanto, participando do espanto. Só chamando um reboque é que o carro sairia dali! Foi o que se fez, chamar o reboque pelo telemóvel. E foram andando a pé para aldeia, a escasso quilómetro e meio, sol a pôr-se.
No dia seguinte, na oficina na vila, o mecânico assegurava-lhe:

- Não, senhor engenheiro, os pneus não estavam furados. Alguém lhe pregou a partida de os esvaziar aos quatro… e voltou a por as tampas nas válvulas!



Manuel Cardoso, 2011

[Publicado em "Trás-os-Montes e Alto Douro: mosaico de ciência e cultura (colectânea de autores oriundos de Trás-os-Montes)", sob a coordenação de Armando Palavras, volume propriedade da Comissão de Festas Nossa Senhora das Graças 2011, uma antologia focada sobretudo em Lagoaça, Freixo de Espada-à-Cinta] 

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

FRAGA DOS CORVOS

Fraga dos Corvos, Verão de 2008



Depois de percorrido o caminho de Montemé sempre a subir desde o Vilar do Monte, chega-se entre os castanheiros e para-se. Um silêncio de mundo antigo envolve-nos no verde religioso da serra. Naquela encosta da Serra de Bornes, voltada a Norte, há um conforto especial de quem se sente em casa, mesmo não sendo dali. O sol está forte mas é manso entre as folhas. E, ao voltarmos a nossa vista para o esplêndido vale onde fica Macedo de Cavaleiros, com as outras serras, a de Ala, da Nogueira e do Cubo a emoldurá-lo e a servir de horizonte próximo – que ao longe estão o Marão e o Alvão, o Gerês e o Castro Laboreiro, a Galiza, os Montes de León e La Culebra – começa a ouvir-se um murmúrio ao pé, de entre as ramagens, um scratch, scratch, scratch que é inconfundível. Aproximamo-nos, calcando ervas rasteiras e afastando um ramo de castanheiro bravo. Uma plataforma de rochas em aconchego na vertente, uma turma da Faculdade de Letras de Lisboa de olhos no chão, esgaravata a colher e destapa suavemente com brocha de cerda, não a ver o que está ali mas a saber o que ali estava há três milénios antes de agora, a mexer no que ali era há mais de três mil anos antes de agora. É um momento raro. Estar em comunhão com dez pessoas e todos embarcarmos numa viagem no tempo até à Primeira Idade do Bronze. Nada como nos livros, imaginada. Toda real, ali. Um dia destes descreverei como é. Obrigado ao Bruno, à Joana, à Raquel, à Débora, à Elsa, ao Francisco, à Helena, à Liliana, ao João e ao grande amigo João Senna-Martinez!






Para verem mais fotos podem pesquisar os álbuns do blogue ou irem para http://picasaweb.google.com/mcardoso.mmacedo/Arqueologia2008 Até já!



terça-feira, 16 de outubro de 2007

trovisco

TROVISCO Daphne gnidium L. Há duas plantas diferentes com este nome. Uma chama-se trovisco-macho, existe na Madeira e é muito diferente da que nos interessa e sobre ela nada aqui dizemos.

O trovisco que existe em Trás-os-Montes é um arbusto da família das Timeliáceas cujo nome científico é Daphne gnidium L (1). Há ainda duas plantas muito parecidas, também da mesma família e que têm os mesmos nomes vulgares em diversas regiões do país: trovisco-fêmea, trovisqueira, gorreiro (Alentejo), erva-de-João-Pires, mezereão, mezéreo-menor, mezereão menor. O mezereão, Daphne mezereum L., e a Daphne Laureola, são esses outros elementos desta mesma família. O sabor deste vegetal é muito amargo e, em geral, os animais evitam-no. Contudo, se for ingerido por cavalos pode ser mortal e o mesmo acontece com as galinhas, como se pode avaliar pelo seu nome no país vizinho. Sinonímia internacional: - Castelhano: torvisco, matapollos, bufalaga, matapulgas, matagallina, torbisca, trovisco; - Galego: trobisco; - Inglês: spurge flax, mediterranean mezereon, flax-leaved Daphne; - francês: garou, sainbois, daphné Saint-bois; - alemão: purgierstrauch; - italiano: gnidio. É uma espécie perene, vivaz e sempre verde, floresce precocemente de Março a Setembro. Formam-se verdadeiras comunidades destes arbustos, denominadas troviscais. Prefere o clima mediterrânico e existe até aos 800 metros de altitude. Pode atingir quase dois metros de altura. Tem ramos delgados e flexíveis. As folhas são lanceoladas, coriáceas, de tonalidade verde-azulada e produzem uma secreção resinosa no anverso. As flores são brancas ou levemente amareladas, aromáticas, formam cachos terminais ou em panícula, nas extremidades dos ramos. O fruto é carnudo, uma drupa, ovóide, de coloração que começa por ser verde, evolui para laranja brilhante e vermelho quando maduro e depois passa a ser preto. Costuma haver flores e frutos simultaneamente e as flores chegam a preceder, na primavera, o aparecimento das folhas novas. Esta planta está associada frequentemente a um insecto, uma borboleta , Lobesia botrana, aranhiço da videira – tignoletta dell’uva (it.), grape moth (ing.), arañuelo de la vid (cast.), que nela deposita as suas larvas. Todas as partes da planta são tóxicas. Sobretudo as bagas que são os seus frutos, pelo seu carácter atractivo e por serem semelhantes às de outras plantas comestíveis, representam perigo e em especial para as crianças . A dose mortal não é muito elevada, sobretudo se forem bagas do mezereão (Daphne mezereum): dez bastam para que uma criança possa morrer se não for socorrida a tempo. Os sintomas desta intoxicação são náuseas, vómitos, hipercatarsis, diarreia sanguinolenta, congestão e ulceração da boca e garganta. Também é produzida irritação renal que pode ser grave. O povo usa a raiz triturada numa preparação com farinha, cinza e terra para fazer bolas que, atiradas para os fundões das ribeiras, entorpecem os peixes permitindo a sua fácil captura. Este método de pesca é chamado de troviscada. Os componentes activos da planta são uma resina e a dafnetoxina (2). O contacto da seiva com a pele pode causar dermatites e vesicação. A resina, presente nos frutos, é tóxica quer para homens quer para animais mas foi, apesar de tudo, usada ao longo dos anos quer em cosmética para preparação de um unguento para tingir os cabelos de preto quer em medicina como cicatrizante de feridas. Em Espanha usou-se muito para promover a cicatrização aquando da perfuração das orelhas das meninas, utilizando-se um troçozinho que se introduzia no orifício. Também como insecticida foi usada largamente para eliminar pulgas, piolhos, etc (3). Nalguns países foi usada como purgante, estimulante, diaforética e catártica. Em doses pequenas. Nas situações de doenças insidiosas da pele e nas escrófulas foi empregue externamente. Os homeopatas usaram-na nas dores periósticas que se seguem à sífilis e no reumatismo. Como revulsivo e vesicante e sempre que se pretende provocar a supuração de um abcesso mergulha-se a casca em vinagre e água para a amolecer e aplica-se sobre a zona a incidir com uma compressa, repetindo-se este tratamento à tarde e de manhã até que o resultado esperado se produza. Nenhuma destas utilizações deve ser feita por curiosos mas sim de modo consciencioso porque, repetimos, o uso desta planta não é inofensivo. As sementes de trovisco vendem-se a 225 € + IVA cada 250 grama (4). (1) O nome do género deriva do grego, Daphne, loureiro, nome da bela jovem casta educada no horror ao casamento e que ao ser perseguida por Apolo invocou a ajuda da Terra-Mãe e se transformou num loureiro (daí ser esta a árvore preferida de Apolo). (2) Mezereína, denomina-se também o diterpeno tóxico presente. (3) Foi extraída desta planta e das outras da mesma família a casca para usos medicinais. O princípio activo é a dafnina C15H16O9+2H2O. Esta pode ser decomposta em açúcar e dafnetina, que é uma dioxi-cumarina (Ver Bibliog.: King’s American Dispensatory...). (4) www.sandemanseeds.com BIBLIOGRAFIA Dr. Oliveira Feijão, MEDICINA PELAS PLANTAS, Lisboa, 1952. SEGREDOS E VIRTUDES DAS PLANTAS MEDICINAIS, Selecções Readers Digest, Lisboa José Murcia e Isabel Hoyos, CARACTERISTICAS Y APLICACIONES DE LAS PLANTAS, 2001, www.zonaverde.net www.botanical-online.com/fotosdaphne.htm www.minerva.uevora.pt www.fotodisardegna.it DUNES ATLANTIQUES 2001, in http://perso.wanadoo.fr DAFNE (Daphne mezereum) in http://w3.uniroma1.it King’s American Dispensatory, Harvey Wickes Felter, M.D., and John Uri Lloyd, Phr.M., Ph.D., 1898. in Henriette’s Herbal Homepage, www.ibiblio.org/herbmed/eclectic/kings/daphne-meze.html Plantas Silvestres de España in www.hoseito.com